Pular para o conteúdo

Resenha: Tweet Cute – Emma Lord (2020)Leitura em 4 minutos

Um kindle exibindo a capa do romance TWEET CUTE de Emma Lord está situado à esquerda de uma xícara de café sobre um fundo de madeira branca.

O título de Tweet Cute, de Emma Lord dá o tom deste romance de estreia leve e bem executado. O nome da obra brinca com a expressão inglesa meet cute, que se refere ao momento – épico e inesquecível, em geral – em que um casal (de protagonistas, quando na ficção) se conhece.

Em To All the Boys I’ve Loved Before de Jenny Han, por exemplo, Lara Jean reclama que ela e Peter, por terem se conhecido na infância e só se tornado envolvidos romanticamente anos mais tarde, nunca teriam um meet cute especial para recordar.

Outros exemplos abundam na ficção anglófona: Peter Parker e MJ, Gilbert Blythe e Anne Shirley, Jack Dawson e Rose DeWitt Bukater, Jane Eyre e Mr. Rochester, Romeu e Julieta, e por aí vai. No romance de Lord, no entanto, o que estabelece a ligação entre Pepper e Jack não é a ocasião em que eles se conheceram no colégio onde estudam há anos no Upper East Side, mas o momento em que eles iniciaram uma guerra on-line entre o império de fast food da família dela e a lanchonete da família dele no East Village.

A briga começa após Jack acusar a Big League Burger de ter roubado a receita do tradicional queijo quente da Girl Cheesing, deli da sua família. Incendiada por um senso de injustiça – um negócio local sendo esmagado por uma corporação sem rosto – a guerra virtual tem efeitos negativos para BLB, mas basicamente salva a Girl Cheesing da falência. Embora, no início do livro, Pepper e Jack não saibam a identidade de quem está por trás das postagens na briga que eles travam no Twitter diante dos olhos dos milhares de seguidores da BLB e da crescente rede da GC, quando eles descobrem a identidade do/a autor/a dos tweets polêmicos, o impulso dos dois é continuar a batalha, mas estabelecendo algumas regras. Assim, a guerra vira um jogo.

Paralelamente, os dois interagem em um aplicativo utilizado por quase todos os alunos da exclusiva escola Stone Hall que preserva as identidades dos usuários mesmo em chats privados. Vivendo em Nova York há anos, após a expansão da Big League Burger para a metrópole, Pepper ainda sente falta de sua vida em Nashville e tem dificuldades para se enturmar no ambiente ultracompetitivo de Stone Hall. Sob o username Bluebird, ela faz amizade com o “Wolf” no aplicativo. Wolf, por sua vez, é o codinome usado por Jack, que embora tenha desenvolvido o aplicativo, também não sabe a verdadeira identidade de Bluebird, por quem ele desenvolve sentimentos.

No cruzamento entre os vários níveis em que Jack e Pepper interagem pela internet, eles acabam se aproximando na vida real. Jack se abre com ela sobre a insegurança de ter um irmão gêmeo – Ethan – que é a estrela do colégio: popular, competente e engajado com todas as atividades extracurriculares. Jack se sente preterido mesmo aos olhos dos pais, embora pareça ao leitor desde o início da história que Ethan se sente de forma muito similar. Já Pepper compartilha com ele a pressão que sente por parte da mãe para continuar com a guerra no Twitter, a ansiedade gerada pela briga duradoura entre a mãe e a irmã (Paige, que estuda na Universidade da Pensilvânia) e a incerteza do que ela gostaria de fazer após concluir o ensino médio.

É nesse contexto de intrigas on-line e uma aparentemente inexplicável rivalidade familiar entre a Big League Burger e a Girl Cheesing – pontuada pela curiosa insistência da mãe de Pepper que sua filha adolescente participe ativamente da estratégia de marketing de uma corporação imensa em plena temporada de provas – que a afinidade entre Jack e Pepper evolui para uma amizade que frequentemente sugere subtons de romance.

Tweet Cute é um livro bem-escrito que adere a diversas convenções da literatura YA sem necessariamente se propor a inová-las ou subvertê-las. Muitos dos tropos favoritos de leitores do gênero (e a autora desta resenha se inclui nessa categoria) como enemies to friends, friends to lovers, protagonista como outsider e figuras parentais ausentes são desenvolvidas de forma previsível em Tweet Cute, mas esta não é uma crítica necessariamente negativa.

Este é um romance no qual você pode mergulhar por horas sem que a leitura se torne cansativa. Pelo contrário, a estrutura da obra convida o leitor a jamais abandonar o livro até que o desenlace seja alcançado. Lord sucede em fazer seu leitor se conectar e se importar com Pepper e Jack. Tweet Cute é uma leitura confortável e divertida, que entrega o que se propõe a oferecer o leitor e o entretém ao longo do caminho. Seguimos ansiosos pelas próximas publicações de Emma Lord e recomendamos a leitura de Tweet Cute.

Publicado por

Professora na UERJ | Website

Marcela Santos Brigida é professora de literatura inglesa na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.  Doutora em Literaturas de Língua Inglesa (UERJ, 2022), defendeu tese sobre a obra da escritora irlandesa contemporânea Anna Burns. No mestrado (UERJ, 2020), pesquisou a relação entre a poesia de Emily Dickinson e a canção. É bacharel em Letras com habilitação em língua inglesa e suas literaturas (UERJ, 2018). Atuou como editora geral da Revista Palimpsesto (2020-2021). É coordenadora do projeto de extensão Literatura Inglesa Brasil (UERJ). Tem experiência nas áreas de literaturas de língua inglesa, literatura comparada e estudos interartes, com especial interesse no romance de língua inglesa do século XIX e na relação entre música e poesia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *