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Resenha: The Weight of a Thousand Feathers de Brian Conaghan

Resenha de The Weight of a Thousand Feathers de Brian Conaghan

Resenha de The Weight of a Thousand Feathers de Brian Conaghan

Publicado originalmente em 2018, o romance mais recente do vencedor Costa Children’s Book Award Brian Conaghan, The Weight of a Thousand Feathers, ganhou uma belíssima versão em brochura publicada pela Bloomsbury em junho de 2019. Retratando os dilemas e o cotidiano de um adolescente de 17 anos que se torna cuidador da própria mãe após ela desenvolver os sintomas de esclerose múltipla, este romance YA não se esquiva de questões éticas complexas.

Bobby Seed tem apenas 17 anos e vive com sua mãe, Anne, e o irmão mais novo, Danny, (13). Sua melhor amiga, Bel, está sempre na casa da família Seed e frequentemente cuida de Danny quando Bobby precisa sair. No entanto, embora o protagonista rememore ao longo do romance a rotina da sua família em dias melhores, quando a mãe gostava de caminhar pelos longos corredores do supermercado Asda com ele e o irmão e a conversa dos três era marcada por tiradas sarcásticas e brincadeiras, o romance focaliza o período que se sucede ao diagnóstico de Anne.

Ao longo da história, o quadro da mãe de Bobby se agrava e a doença evolui para Esclerose Múltipla Secundária Progressiva (EMSP). Conforme a saúde de Anne se deteriora, Bobby se torna cada vez mais responsável não apenas pelos cuidados dela, mas pelo irmão mais novo. Como rede de suporte ele conta com o auxílio limitado da NHS (o SUS britânico), a compreensão dos professores na escola, o bom-humor de Bel e, mais tarde, com um grupo de apoio.

O Poztive surge no romance como um grupo de apoio com reuniões semanais para jovens cuidadores. Embora às vezes desconfortáveis, os encontros possibilitam que Seed esteja em um local que, quando as pessoas dizem entender o que ele compartilha, ele sabe que, ao contrário das pessoas da escola, elas de fato entendem porque vivenciam situações muito parecidas em seu dia-a-dia. Além disso, para ele e os colegas, é uma das poucas oportunidades de que dispõem para – ainda que de forma temporária – serem simplesmente adolescentes. Nos encontros do Poztive, Bobby conhece Lou, um americano descolado que dá caronas para ele em sua “Vespa vintage”. Embora Bobby se sinta quase instantaneamente atraído, uma série de circunstâncias complicam a aproximação dele e de Lou (entre elas, a própria personalidade instável do americano).

Conforme Anne vai perdendo o controle sobre o próprio corpo e, mais tarde, sobre a própria mente – com lapsos de memória e cansaço extremo – ela faz um pedido difícil para Bobby. A decisão dele vai definir o futuro a família Seed, já sob o risco de ser separada quando os médicos sinalizam que em breve será necessário que Anne fique internada em tempo integral.

O ponto alto do romance é definitivamente a forma como Conaghan estabelece e desenvolve o relacionamento de Bobby e Anne. Como alguns resenhistas já observaram, o ponto de vista narrativo de um jovem cuidador não tem muitos precedentes. O romance é narrado em primeira pessoa na voz do menino e são repletos de delicadeza seus relatos sobre as ocasiões em que escovava o cabelo da mãe bem devagar, com todo o cuidado para não machucar. Ouvindo com ela as “músicas de quando ela era jovem”, Bobby adquire um gosto por bandas que faziam sucesso na adolescência dela, como The Jesus and the Mary Chain e The Smiths. Mesmo quando ela passa a maior parte do tempo dormindo, ele deixa as canções que ela amava tocando, num gesto de carinho. Juntos, mãe e filho assistem a filmes de John Hughes e estabelecem um diálogo profundamente carinhoso e espirituoso.

Em momento algum o jovem demonstra qualquer tipo de ressentimento por cuidar da mãe. Fica claro que ele se ressente exclusivamente por não poder ajudar mais, por não poder curá-la, por ver Annie sofrendo por perder sua liberdade e, pouco a pouco, se tornar inteiramente dependente do filho. Mas este é um livro sobre o amor incondicional de um filho pela mãe. E enxerga, do início ao fim, Annie não apenas como mãe, mas como uma grande amiga. Conforme a narrativa prossegue, Bobby também passa a compreender melhor o irmão. A aproximação e a vulnerabilidade dos dois, assim como o amor e a dedicação dos garotos à mãe enriquecem a experiência de leitura. Também merecem aplausos o desenvolvimento da amizade de Bobby e Bel, pontuada por pequenos e grandes tropeços que são superados pelos dois, e os poemas de Seed – um poeta aspirante – que entremeiam a prosa do romance.

Entre os aspectos que não funcionam tão bem em The Weight of a Thousand Feathers está o desfecho de Lou. Após um ponto culminante da narrativa sugerir que ele teria algum tipo de transtorno que seria elaborado mais tarde, Lou simplesmente desaparece e não retorna mais. Embora Conaghan invista bastante na construção do personagem e no desenvolvimento da relação dele com Bobby, Lou é prontamente abandonado e paira como um fio solto no que é, em outros aspectos, uma narrativa bem amarrada. O debate ético lançado pelo autor – que não pode ser discutido sem revelar spoilers – tem o potencial de incomodar e mesmo desagradar alguns leitores. Da minha parte, acredito que o autor lidou com o tema de forma madura, se esquivando de juízos de valor e focalizando a situação de Anne em suas particularidades, sem projetá-la como padrão.

Bem escrito e envolvente, The Weight of a Thousand Feathers é um livro denso e que demanda muito do leitor, se desviando das expectativas usuais em torno da literatura YA. A obra tem o potencial de agradar a leitores de John Green e de Jojo Moyes e àqueles interessados em narrativas que abordam debates complexos e o afeto em suas diferentes formas e manifestações.

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