Para estrear minhas postagens de resenhas no blog do Literatura Inglesa Brasil com chave de ouro, escolhi um dos romances lidos no clube do livro do Literatura Inglesa Brasil: Hamnet de Maggie O’Farrell. Que Shakespeare é um dos maiores dramaturgos da história todos nós já sabemos, mas apesar de toda a popularidade, muitas informações da sua vida pessoal são desconhecidas.
Pensando nisso, O’Farrell preenche as lacunas da história misteriosa que foi a vida do Bardo. A autora evidencia um dos episódios mais marcantes da vida de Shakespeare: a morte de seu filho Hamnet. O romance é dividido em duas partes, uma que se passa antes da morte de Hamnet e a outra após. O que torna essa história fascinante é a escolha da autora de direcionar o foco narrativo não tanto para Shakespeare – seu nome sequer é propriamente mencionado no livro – mas sim para sua esposa Agnes (uma versão ficcional de Anne Hathaway) e os filhos Hamnet, Judith e Susanna.
Além disso, a autora estabelece uma alternância de espaço temporal com o objetivo de explorar a vida de Shakespeare desde o seu início, de forma sutil e que possa preencher os vazios existentes em suas biografias. O’ Farrell transmite a dor do luto e como cada integrante da família reage a esse sofrimento, explorando o sofrimento de perder um filho, um irmão, um neto, um sobrinho e uma pessoa amada.
Logo no primeiro capítulo, Hamnet aparece à procura de um adulto pela casa para socorrer a sua irmã gêmea, Judith, que não estava se sentindo bem. Na passagem, nota-se uma menção sutil à peste bubônica sem nunca sequer citá-la propriamente, o que gera um clima assustador com uma atmosfera de tensão no livro, tensão essa que o leitor já espera após ler a sinopse do romance. Mesmo com a triste expectativa da morte de Hamnet a qualquer hora, tal acontecimento demora para suceder. A escritora cria um ambiente nostálgico para que o leitor tenha tempo de conhecer e se afeiçoar ao menino, vendo-o nascer, crescer, até então chegar o momento da sua morte.
Com alternâncias entre o presente e o passado, todos os personagens são muito bem construídos, com sentimentos e personalidades complexos. Agnes é uma das personagens que mais desperta atenção, desde a sua primeira aparição na vida de Shakespeare até a reação ao luto. No capítulo da morte de Hamnet, podemos sentir a dor de Agnes como se fosse nossa. Ela relata que:
Abriria as próprias veias, rasgaram o próprio corpo e daria ao filho seu sangue, seu coração, seus órgãos, se de alguma coisa adiantasse. – Hamnet, Maggie O’Farrell
O romance também trabalha a elaboração do luto por meio da arte. Perto do desfecho, Agnes vai a encontro do marido em Londres, frustrada por somente ela estar vivenciando o luto. Porém, ao chegar na cidade, a mulher se depara com uma nova forma de elaborar ressignificar o luto: por meio da arte.
Hamnet é uma leitura profunda e ao mesmo tempo muito prazerosa. O romance prende a atenção do leitor. Se você procura uma leitura capaz de mexer com o seu coração, além de acrescentar um pouco de conteúdo shakespeariano, Maggie O’Farrell faz isso com maestria e leveza. A história é tão comovente que chega a ser quase impossível terminá-la de forma indiferente. Se você é um fã de Shakespeare, vale a pena começar essa leitura incrível!