Candice Carty-Williams e Bernardine Evaristo se tornaram as primeiras autoras negras a ganhar os principais prêmios dos British Book Awards. Elas foram as vencedoras das categorias livro do ano e autora do ano, respectivamente.
Carty-Williams foi premiada por Queenie, seu romance de estreia. Indicadas na mesma categoria estavam as obras Three Women de Lisa Taddeo e My Sister, the Serial Killer de Oyinkan Braithwaite. A categoria avalia os critérios “qualidade de escrita, inovação de publicação e vendas”.
Carty-Williams disse estar orgulhosa e agradecida por vencer, mas também “triste e confusa” por ter sido a primeira escritora negra a receber o prêmio principal:
“No geral, essa vitória me deixa esperançosa de que, embora eu seja a primeira, a indústria esteja acordando para o fato de que eu não devo e não vou ser a última”, ela disse.
“O poder de Queenie é como faz você se sentir: energizado; tocado; confortado. É uma peça de ficção de estreia muito segura e original”, disse a jurada Pandora Sykes. “Questões importantes sobre identidade, raça, família, heterossexualidade e saúde mental são destiladas em uma prosa que é facilmente digerível, mas extremamente impactante”.
Na semana após um estudo constatar que o público negro e asiático estava sendo ignorado pelas editoras do Reino Unido, os jurados também elogiaram o best-seller de Carty-Williams como “um livro que foi capaz de mudar as percepções da indústria sobre quais histórias podem ter sucesso comercial e crítico”.
Bernardine Evaristo, vencedora conjunta do Booker Prize no ano passado por seu romance polifônico Girl, Woman, Other, foi nomeada autora do ano nos British Book Awards, tornando-se também a primeira escritora negra a vencer nesta categoria. Evaristo também ganhou na categoria de ficção. A romancista, que se tornou a primeira mulher negra britânica a liderar as listas de livros de ficção em brochura mais vendidos no Reino Unido no início deste mês, disse ter ficado honrada:
“Este é um momento tão interessante em nossa história cultural, porque o movimento Black Lives Matter gerou uma quantidade sem precedentes de autoquestionamentos na indústria editorial”, disse Evaristo, que descreveu sua experiência recente no topo da lista dos mais vendidos como “bastante surreal”:
“Eu já estava me acostumando a ver meu nome na lista de best-sellers por 20 semanas, mas depois alcançar o primeiro lugar e perceber que eu fui a primeira mulher não-branca a chegar lá desde que os registros começaram, bem, é muita coisa para absorver”, disse ela. “Escrevo há muito tempo e é incrivelmente gratificante saber que meu trabalho está finalmente alcançando um número maior de leitores. Também é fantástico ver tantos outros livros de escritores não-brancos chegando às listas dos mais vendidos. Tenho certeza de que isso não tem precedentes. Claro, isso foi desencadeado pela tragédia da morte de George Floyd e devemos sempre nos lembrar disso.”
A romancista, signatária de uma carta aberta do recém-formado Black Writers’ Guild, que está pedindo mudanças radicais na indústria editorial britânica, disse que os editores estavam “definitivamente nos ouvindo hoje”.
“Vamos ver se eles cumprem suas promessas”, disse ela. “Espero que eles não voltem ao status quo quando o calor abaixar na conversa sobre racismo, como inevitavelmente será o caso. Ele está no topo da agenda hoje, mas a história nos mostra que, a menos que haja uma crise, como tumultos ou o assassinato de Stephen Lawrence, o racismo como tópico e o anti-racismo como causa logo são rebaixados.”
My Sister, the Serial Killer de Braithwaite, ganhou na categoria de literatura policial ou thriller do ano, também se tornando a primeira autora negra a vencer nesta categoria.
Os British Book Awards, também conhecidos como Nibbies, são produzidos pela revista The Bookseller. A cerimônia de segunda-feira, que foi realizada on-line pela primeira vez, também declarou vencedor o livro Three Women de Lisa Taddeo na categoria livro de não-ficção narrativa do ano e Holly Jackson venceu na categoria de ficção infantil por A Good Girl’s Guide to Murder. The Testaments de Margaret Atwood ganhou como audiolivro do ano, enquanto o criador de Elmer, David McKee, foi nomeado ilustrador do ano.
Com informações do The Guardian.
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Marcela Santos Brigida é professora de literatura inglesa na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Doutora em Literaturas de Língua Inglesa (UERJ, 2022), defendeu tese sobre a obra da escritora irlandesa contemporânea Anna Burns. No mestrado (UERJ, 2020), pesquisou a relação entre a poesia de Emily Dickinson e a canção. É bacharel em Letras com habilitação em língua inglesa e suas literaturas (UERJ, 2018). Atuou como editora geral da Revista Palimpsesto (2020-2021). É coordenadora do projeto de extensão Literatura Inglesa Brasil (UERJ). Tem experiência nas áreas de literaturas de língua inglesa, literatura comparada e estudos interartes, com especial interesse no romance de língua inglesa do século XIX e na relação entre música e poesia.