O sucesso literário Queenie ganhou uma adaptação e está imperdível. A série agrada o público que já leu o romance de Candice Carty-Williams e certamente não decepcionará aqueles que ainda não leram nada da autora. A atuação dos atores está ótima e as escolhas criativas para o formato em série não deixam a desejar.
A narração de Queenie (2019) é sempre muito sarcástica e realista, o que faz com o que o leitor se sinta cada vez mais próximo das escolhas nem sempre acertadas da personagem. Na adaptação, o mesmo recurso foi apropriado e agora o espectador escuta os pensamentos de Queenie conforme os eventos se desdobram no seriado, quase como se houvesse uma conversa apenas entre o espectador e Queenie. A técnica foi muito bem utilizada e oferece uma camada maior para fortalecer os sentimentos de Queenie, que nem sempre são verbalizados.
Em setembro de 2022, Carty-Williams divulgou em seu Twitter/X a chamada para o papel de Queenie, deixando os leitores ansiosos com o resultado. A atuação de Dionne Brown como Queenie foi excelente e conseguiu superar as expectativas. A atriz foi capaz de ilustrar muito bem as insatisfações da personagem no jornal que trabalha, os sentimentos conturbados no relacionamento problemático com o Tom e a dificuldade de se conectar com Sylvie, sua mãe.
Ayesha Antoine conseguiu captar muito bem o tom como Sylvie, a mãe de Queenie, luta para se aproximar da filha, e a atuação de Antoine é tão convincente que faz o espectador se emocionar facilmente com essa relação difícil entre mãe e filha. A série apresenta flashbacks das duas, criando uma preparação importante para entender os dois lados da história.
Llewella Gideon e Michelle Greenidge, respectivamente como avó e tia de Queenie, também merecem destaque pelas atuações. A família de Queenie é fundamental não só para a história como para o desfecho dela, e as atrizes captaram brilhantemente como é conviver com uma família cuja geração é diferente da sua. Além disso, as duas oferecem tanto cenas engraçadas como difíceis, mas importantes para o desenrolar da trama.
A adaptação é interessante não só por conseguir captar a essência do livro, mas também por oferecer novidades. Como avô de Queenie, Joseph Marcell teve uma das cenas mais emocionantes e emblemáticas da série. Para quem já leu o romance, sabemos que Joseph inicialmente tem um temperamento difícil quando Queenie muda para a sua casa, gerando uma discussão calorosa entre os dois. Na série, a figura do avô ainda mantém o seu modo, mas também contribui para uma conversa emocionante entre avó e neta.
Além dessa mudança, a série segue por um final um pouco diferente do livro, mas certamente fará os leitores ficarem satisfeitos. Adaptar uma série pode ser um desafio, mas uma boa equipe por trás faz uma grande diferença. Além de ser uma das produtoras executivas da série, Carty-Williams também escreveu três episódios: dois sozinha e um com Yolanda Mercy.
Graças à família e amigos de Queenie, a adaptação da história de Williams-Carty é recheada de humor, mas em nenhum momento o equilíbrio do riso é perdido. É uma tarefa quase impossível não se emocionar com a história e torcer para que Queenie tenha uma vida amorosa e profissional mais respeitosa.
Diversos fãs da trama pediram uma nova temporada para a série, o que mostra a importância de mostrar histórias reais de outras “Queenies” pelo mundo. Contudo, a adaptação do livro consegue traduzir muito bem para a televisão as complexidades de Queenie, criando novas alternativas para a história e sem deixar grandes respostas soltas.
No Brasil, Queenie está disponível para assinantes da Disney+. A série tem oito episódios de aproximadamente 30 minutos. Além de assistir à série, vale também conferir os conteúdos já feitos no seu perfil do Instagram.
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Graduando em Letras: Inglês/Literaturas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Curador de conteúdo do projeto de extensão Literatura Inglesa Brasil, tendo atuado anteriormente como bolsista entre o período de 2022-2024, sob orientação da Profa. Dra. Marcela Santos Brigida. Oferece aulas de monitoria de Cultura Inglesa no Instituto de Letras da UERJ, sob orientação da Profa. Patricia Marouvo. Co-organizou o livro Dickens in Brazil: A Tale of Two Cities in Students Voices (Kellynch Press, 2024). Pesquisador da obra da escritora estadunidense Raven Leilani e tem interesse no romance contemporâneo em língua inglesa.