Com informações do The Guardian.
Um exemplar de David Copperfield lido em voz alta pelos homens do Capitão Scott ao longo de 60 noites enquanto estavam presos em uma caverna de gelo na Antártida integra nova exposição que revela o aspecto internacional de Charles Dickens.
Manchado com impressões digitais pretas originadas por lâmpadas de gordura de foca que foram usadas para iluminar a caverna de gelo, a edição de 1910 do romance de Dickens ainda retém um leve cheiro de fumaça e peixe, segundo artigo no The Guardian.
Este foi um dos três livros que um grupo de homens de Scott usaram como distração quando ficaram presos em uma caverna de gelo por sete meses. Eles leram em voz alta um capítulo por noite ao longo de 60 noites para não perder o ânimo. O geólogo Raymond E Priestley, que fazia parte do grupo, escreveu: “nós sentimos muito quando nos separamos” de David no momento em que a história chegou ao fim.
“Eles tiveram que ficar na caverna para sobreviver e comiam pinguins e focas para resistir. Foi um inverno muito rigoroso. Era muito importante contar com as histórias não apenas como entretenimento, mas também como conforto e uma maneira de a tripulação não perder o ânimo”, disse Frankie Kubicki, curador do Charles Dickens Museum em Londres, que lançou a exposição Global Dickens: For Every Nation Upon Earth no dia 14 de maio.
“Eles ficavam ansiosos para lar a obra todas as noites. Um médico prescrevia dois capítulos por noite quando eles se sentiam particularmente tristes”, acrescentou. “O formato que eles estavam lendo era exatamente como deveria ser lido – em voz alta e de forma periódica”.
A Dr.ª Claire Warrior, curadora do museu, disse que o exemplar de David Copperfield da expedição Terra Nova, de 1910, faz parte de uma longa tradição de expedições britânicas que levavam bibliotecas inteiras de livros para as regiões polares.
“A expedição de Sir John Franklin em 1845 levou mais de mil livros para o norte, de narrativas de exploradores a livros de orações, e acreditamos que The Pickwick Papers e Nicholas Nickleby tenham sido incluídos também”, disse ela.
“A leitura era uma importante atividade comunitária que evitava o tédio e construía laços entre homens que viviam em condições desafiadoras e desconfortáveis, com pouco espaço pessoal.”
“Além disso, o fato de que David Copperfield foi originalmente publicado de forma periódica significa que o romance está repleto de ganchos, o que teria ajudado a manter o interesse deles elevado.”
Scott e seu grupo chegaram ao Polo Sul, mas não conseguiram voltar ao acampamento. O grupo na caverna sobreviveu à expedição, mas nunca chegou ao Polo Sul. Eles levaram o romance de volta para a Nova Zelândia. Algum tempo depois, ele acabou seguindo para o Charles Dickens Museum em Londres, onde é uma grande atração na exposição atual.
Com a intenção de revelar como Dickens e suas histórias viajaram pelo mundo, a exposição também contará com a escrivaninha portátil de jacarandá usada por Dickens em suas viagens tardias – contendo dois vidros de tinta e algumas canetas – além da bolsa de viagem que ele levou para a Itália quando escalou o Vesúvio e cartas escritas pelo autor em francês e italiano.
“Embora a ideia de Charles Dickens possa trazer à mente imagens que estão firmemente enraizadas em Londres e na Inglaterra, sua visão estava voltada para o mundo. Dickens era tanto escritor de viagem e jornalista quanto escritor de ficção, e os assuntos e questões sociais que o preocupavam eram universais”, disse Kubicki.
“Enquanto o Reino Unido reavalia sua relação com a Europa e seu lugar no mundo, estamos celebrando a conexão vital que Dickens teve – e tem – em todo o mundo”, disse a diretora do museu, Cindy Sughrue.
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