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Lançamento: Conversas com Virginia WoolfLeitura em 4 minutos

Editora Ape'ku lança Conversas com Virginia Woolf

A Editora Ape’Ku lança hoje o livro Conversas com Virginia Woolf, organizado por Davi Pinho (UERJ), Maria Aparecida de Oliveira (UFPB) e Nícea Nogueira (UFJF), mais um título que sai na Coleção X, coordenada por Rafael Haddock-Lobo (UFRJ). Os organizadores gravaram um vídeo falando um pouco sobre a obra:

Você pode adquirir o livro em formato físico ou e-book no site da editora. 

Em parceria com a Ape’ku, também serão realizados sorteios de dois e-books de Conversas com Virginia Woolf nos nossos perfis no Instagram e no Facebook

Conversação woolfiana

Em 1937, George Barnes, então produtor no Talks Department da rádio BBC de Londres, organizou uma série de transmissões sugestivamente intitulada Words Fail Me, as palavras me faltam, ou me falham. Em 29 de abril de 1937, sua convidada Virginia Woolf teve sua voz transmitida para os ouvintes da BBC no que chamou de um talk sobre a natureza das palavras, postumamente publicado como o celebrado ensaio “Craftsmanship”[1]. No único registro de sua voz que sobreviveu ao tempo, até onde se tem notícia, Woolf celebra a “natureza altamente democrática” da palavra, e se pergunta: “como podemos combinar as palavras velhas em novas ordens para que elas sobrevivam, para que elas criem beleza, para que elas digam a verdade? Esta é a questão” (Woolf: 1937, p. 204). Para produzir verdade (categoria sempre temporária na obra de Woolf, que se constrói e se desconstrói na escrita), ela nos convida a trabalhar os “ecos” das palavras e a observar a “liberdade” delas – essa “qualidade misteriosa” que lhes permite viver “diversa e estranhamente” em nossas “mentes”, “casando-se” com outras línguas e raças (Woolf: 1937, p. 205).

Conversas com Virginia Woolf nasce do trabalho de ouvir a escrita da autora inglesa, procurando permitir, nessa escuta atenta e delicada, que os ecos de suas palavras ajam democrática e livremente em “novas ordens”, em novos “casamentos” com línguas, lugares e tempos diversos. Afinal, as palavras vivem em nós – nas nossas mentes, em nossos corpos –, não nos dicionários, Woolf nos diz (1937, p. 204-205). Ao escutar os ecos das palavras de Woolf em seu tempo e no nosso, as/os autoras/es neste volume elaboram conversas em torno das questões dos gêneros literários e performativos, do humano e do não humano, da escrita e da pintura, do feminismo e da écriture féminine, do Estado democrático de direito e de seus limites, do biográfico e do autobiográfico, adensando e tonificando a qualidade X de Virginia Woolf.

Ao pensar esta coleção por meio de uma conversa com Clarice Lispector,  Rafael Haddock-Lobo nos diz que o X é cruzamento, atravessamento e transversalidade, justamente o que nos interessa ao ler Virginia Woolf. Mas, como nos lembra Rafael, o X é também encruzilhada. E, de fato, este livro nasce em encruzilhadas: nossos encontros na Abralic – onde, em 2019 (UnB), conversamos em torno de “Leituras Contemporâneas de Virginia Woolf” –, e na Virginia Woolf International Conference – onde anualmente difundimos as conversas produzidas sobre, com e em Virginia Woolf. Nasce, antes, nas três universidades públicas onde trabalhamos e de onde convidamos pesquisadoras/es do Brasil e do mundo para a conversa. Assim, agradecemos ao Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), à Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e ao Programa de Pós-graduação em Estudos Literários da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) por fomentar as nossas conversas.

Grato/as pelos encontros nessas encruzilhadas, deixamos o convite à leitura deste livro. A introdução de Conversas com Virginia Woolf ressalta a qualidade conversacional da escrita modernista, abrindo-a para uma elaboração da conversa enquanto um princípio metodológico da escrita (e de uma filosofia da escrita) woolfiana. À introdução, seguem-se as conversas: 18 capítulos escritos por pesquisadoras/es nacionais e internacionais que têm Virginia Woolf como encruzilhada – ou seja, que fazem da escrita woolfiana um lugar de convergências e atravessamentos de questões. E, no que chamamos de “posfácio”, há na verdade um poema, elaborado a partir de uma leitura “ociosa” dos títulos das comunicações que compunham o programa da Virginia Woolf International Conference de 2018 (University of Kent), portanto em conversa com leitoras/es da obra de Woolf. Afinal, não há conclusão para a conversação woolfiana. Pausamos, então, no “poder diabólico” de suas palavras (Woolf: 1937, p. 202), na escuta e à espera de quem ainda entrará na conversa.

Davi Pinho, Maria A. de Oliveira e Nícea Nogueira


[1] WOOLF, Virginia. Craftsmanship. In: WOOLF, Virginia. Death of the Moth and Other Essays. Ed. Leonard Woolf. Londres: Harvest, 1970 [1942], p. 198-207 [1937]. Referências retiradas dessa edição e em tradução de nossa autoria. 

Publicado por

Marcela Santos Brigida
Professora na UERJ | Website

Marcela Santos Brigida é professora de literatura inglesa na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.  Doutora em Literaturas de Língua Inglesa (UERJ, 2022), defendeu tese sobre a obra da escritora irlandesa contemporânea Anna Burns. No mestrado (UERJ, 2020), pesquisou a relação entre a poesia de Emily Dickinson e a canção. É bacharel em Letras com habilitação em língua inglesa e suas literaturas (UERJ, 2018). Atuou como editora geral da Revista Palimpsesto (2020-2021). É coordenadora do projeto de extensão Literatura Inglesa Brasil (UERJ). Tem experiência nas áreas de literaturas de língua inglesa, literatura comparada e estudos interartes, com especial interesse no romance de língua inglesa do século XIX e na relação entre música e poesia.

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