Com informações do The Guardian.
Guy Gunaratne foi anunciado no início de maio como o vencedor do Jhalak Prize pelo seu romance de estreia In Our Mad and Furious City, narrativa que cobre 48 horas em um conjunto habitacional em Londres. A obra foi elogiada pelos jurados como “oportuna e importante.”
Gunaratne, que trabalhou como jornalista e documentarista antes de se dedicar à escrita, cresceu no noroeste de Londres, filho de pais cingaleses. In Our Mad and Furious City, que se passa durante um verão de agitações, começa quando um soldado de folga é assassinado por um homem negro. A ideia para a obra surgiu após o assassinato de Lee Rigby.
Em uma entrevista em 2018 com o The Observer, Gunaratne lembrou ter se sentido perturbado com um vídeo do assassino de Rigby, Michael Adebolajo, coberto de sangue.
“Eu me lembro de ter ficado chocado, não pelo evento, mas pelo fato de que ele estava falando do jeito que eu falava, e estava vestido da mesma forma que os garotos da minha escola se vestiam. Até seus maneirismos e a maneira como ele se comportava pareciam familiares. Era terrorismo, mas era muito perto de casa. Você não deveria se identificar com monstros. Em vez disso, queria refratar essa sensação de perturbação através de cinco vozes diferentes; então cada personagem confronta sua própria versão do extremismo.”
Nós já falamos um pouco sobre o Jhalak Prize aqui no Literatura Inglesa Brasil. Em seu terceiro ano, a premiação foi criada em 2016 pelos autores Sunny Singh e Nikesh Shukla, e pela Media Diversified para reconhecer o melhor livro publicado por um autor negro, asiático ou membro de uma minoria étnica de nacionalidade britânica ou que resida no Reino Unido. Ele foi criado em resposta ao relatório Writing the Future da Spread the Word de 2015, que revelou que apenas 8% das pessoas que trabalham no mercado editorial britânico se identificaram como tendo origem BAME.1
Em 2017, o membro do Parlamento Philip Davies do Partido Conservador reclamou à Comissão de Igualdade e Direitos Humanos que o Jhalak Prize estaria violando as regras antidiscriminação, argumentando que o prêmio era injusto com os autores brancos e um exemplo de “discriminação positiva”. A EHRC rejeitou a queixa após uma investigação, que, segundo Singh, causou um “estresse enorme” e desperdiçou recursos.
Elogiando o livro de Gunaratne, a jurada e autora, Anna Perera, disse: “Ousado e vivaz ao ponto de as palavras transbordarem da página e zumbirem na sua cabeça, o reflexo da vida contemporânea de Londres parece profundamente pessoal e revelador, totalmente confiante e livre de concessões.”
A poeta Siana Bangura disse que o romance “me jogou em uma nostalgia calorosa e familiar de uma Londres que conheço bem”, enquanto a dramaturga Sabrina Mahfouz chamou a obra de “o livro londrino de nossas vidas”.
“Quando terminei, o único consolo era saber que é a estreia de Gunaratne – temos muito mais a esperar dele”, acrescentou Mahfouz.
Aberto a todos os gêneros e formas de escrita, a lista de indicados deste ano incluía a coletânea de poemas de Raymond Antrobus, The Perseverance, o romance de Aminatta Forna, Happiness, o romance infantil de Onjali Q Raúf, The Boy at the Back of the Class, as memórias de Akala, Natives e Built de Roma Agrawal .
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Marcela Santos Brigida é professora de literatura inglesa na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Doutora em Literaturas de Língua Inglesa (UERJ, 2022), defendeu tese sobre a obra da escritora irlandesa contemporânea Anna Burns. No mestrado (UERJ, 2020), pesquisou a relação entre a poesia de Emily Dickinson e a canção. É bacharel em Letras com habilitação em língua inglesa e suas literaturas (UERJ, 2018). Atuou como editora geral da Revista Palimpsesto (2020-2021). É coordenadora do projeto de extensão Literatura Inglesa Brasil (UERJ). Tem experiência nas áreas de literaturas de língua inglesa, literatura comparada e estudos interartes, com especial interesse no romance de língua inglesa do século XIX e na relação entre música e poesia.