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Emma através do tempo: suas representações modernas

A imagem apresenta as protagonistas dos filmes "As patricinhas de Beverly Hills" e "Emma" (2020), respectivamente, em uma colagem com cenas dos dois filmes, apresentando a diferença entre seus estilos e época.

Publicado por Jane Austen em 1815, Emma conta a história de uma mulher de classe alta que rejeita a ideia de se casar, preferindo cuidar de seu pai e da vida amorosa de seus conhecidos, na tentativa de agir como um cupido. A trama se desenvolve a partir desses seus arranjos, que são atrapalhados pelas suas próprias idealizações e equívocos de interpretação. O início do século XIX trouxe um número considerável de mulheres escritoras, incluindo a própria Austen, além de obras que apontavam as questões sociais da época. O romance possibilita reflexões sobre status social e o casamento, e também possui um estilo narrativo que permite o conhecimento das reflexões e dilemas internos do personagem. O leitor é conduzido, de uma forma muito envolvente, a perceber os deslizes da jovem Emma antes que ela mesma os reconheça em meio à sua evolução.

Em uma carta, a própria Austen escreveu que Emma Woodhouse seria uma heroína de quem ninguém gostaria, a não ser ela mesma. No entanto, a protagonista se mostrou, na verdade, muito querida e popular entre o público geral. Além das adaptações para a televisão, o livro ganhou muitas versões para o cinema, entre elas Emma (1996), com Gwyneth Paltrow, e a mais recente, Emma (2020), dirigida por Autumn de Wilde e protagonizada por Anya Taylor-Joy. O livro serviu também como inspiração para produções que revisitaram a trama em um contexto moderno: em As Patricinhas de Beverly Hills (1995) tem-se uma repaginação contemporânea do clássico, com Alicia Silverstone interpretando Cher Horowitz, personagem equivalente à de Austen. 

Enquanto Emma (2020) é  ambientado em Highbury, na Inglaterra do período regencial, Patricinhas se passa nos Estados Unidos, com personagens adolescentes nos anos 1990. Essa distância espacial e temporal, no entanto, não impediu que semelhanças entre as protagonistas e a o próprio enredo fossem mantidas. As duas personagens são ricas e, após o falecimento das mães e moram sozinhas com seus pais em grandes propriedades. Há algumas mudanças: ainda que Emma tenha apenas 21 anos, há grandes expectativas sobre o seu casamento. A pressão que Cher sofre reside no seu desinteresse em encontrar um namorado (até mesmo por ser ainda mais jovem que Emma).

As semelhanças também estão presentes em outros pontos do filme: tanto Emma quanto Cher acreditam que têm o dom de unir pessoas, e tentam criar casais sem os seus devidos consentimentos. O fazem, às vezes, para beneficiar seus próprios interesses ou para favorecer amigas, escolhendo para os arranjos candidatos vistos como “melhores”, em detrimento de outros menos favorecidos. Esse egoísmo das casamenteiras é palpável em diversos outros aspectos, como nos seus makeovers, que podam a individualidade de suas amigas para encaixá-las em moldes e comportamentos mais aceitáveis, vistos como melhores pelas protagonistas. Toda essa intromissão e confusão gera as reviravoltas da trama, em uma sutil sátira da autora à obsessão de sua sociedade com classes sociais que, de seu próprio modo, ainda permanece muito atual, ao passo que encontra (e continua encontrando) seus paralelos em uma sociedade muito distinta. 

É quase impossível para o leitor não lembrar, com carinho, de uma personagem e suas evoluções individuais ao assistir a outra passar por situações parecidas. Dentre tantas representações diferentes, qual é a sua versão favorita de Emma

Publicado por

É graduanda em Letras - Inglês e literaturas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e bolsista do projeto de extensão Literatura Inglesa Brasil, sob orientação da Profa. Dra. Marcela Santos Brigida.

1 comentário em “Emma através do tempo: suas representações modernas”

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