Foi anunciado pela Tolkien Society na última quinta-feira (16), que Christopher Tolkien, filho do escritor JRR Tolkien, faleceu aos 95 anos. A sociedade, que promove a vida e as obras do célebre escritor, divulgou uma declaração no Twitter para confirmar a notícia:
“Christopher Tolkien morreu aos 95 anos. A Tolkien Society envia suas mais profundas condolências a Baillie, Simon, Adam, Rachel e a toda a família Tolkien.”
Christopher Tolkien has died at the age of 95. The Tolkien Society sends its deepest condolences to Baillie, Simon, Adam, Rachel and the whole Tolkien family. pic.twitter.com/X83PTx4b7x
— Tolkien Society (@TolkienSociety) January 16, 2020
Christopher, nascido em Leeds em 1924, era o terceiro e mais jovem filho do reverenciado autor de O Senhor dos Anéis e da sua esposa, Edith. Ele cresceu ouvindo as histórias de seu pai sobre Bilbo Bolseiro, que mais tarde se tornariam o romance de fantasia infantil, O Hobbit.
Ele desenhou muitos dos mapas originais que detalham o mundo da Terra-média para O Senhor dos Anéis de seu pai, quando a série foi publicada originalmente entre 1954 e 1955. Ele também editou grande parte do trabalho de Tolkien publicado após sua morte em 1973. A partir de 1975, ele viveu na França com Baillie.
O presidente da Tolkien Society, Shaun Gunner, elogiou o compromisso de Christopher com o trabalho do pai e disse: “Milhões de pessoas em todo o mundo serão eternamente gratas a ele… Perdemos um titã e ele fará muita falta.”
Charlie Redmayne, executivo-chefe da HarperCollins UK, que publica grande parte da obra de JRR Tolkien no Reino Unido, disse: “Christopher era um curador dedicado ao trabalho do pai e a popularidade atemporal e contínua do mundo que JRR Tolkien criou é um testemunho adequado das décadas em que ele passou trazendo a Terra-média para gerações de leitores.
“[Ele] era um homem muito elegante e um verdadeiro cavalheiro. Foi uma honra e privilégio conhecer e trabalhar com ele e nossos pensamentos estão com a família dele neste momento.”
A pesquisadora da obra de Tolkien, Dimitra Fimi, elogiou Christopher por enriquecer a obra de seu pai. Ela disse: “Ele abriu uma janela para o processo criativo de Tolkien e forneceu comentários acadêmicos que enriqueceram nossa compreensão da Terra-média. Ele foi o cartógrafo da Terra-média e o primeiro acadêmico.”
Em uma entrevista ao The Guardian em 2012, o filho de Christopher, Simon, descreveu a imensidade da tarefa que se apresentou após o avô morrer com tanto material ainda não publicado.
Simon disse: “Ele criou uma produção enorme que cobria desde a história dos deuses até a história das pessoas que ele chamava de Silmarils – essa foi sua grande obra, mas ela nunca chegou aos leitores, apesar dos seus esforços para publicá-la.”
Christopher foi então vasculhar os arquivos e cadernos e, nas duas décadas seguintes à morte do pai, publicou O Silmarillion, Contos Inacabados, Beren e Lúthien e The History of Middle-earth, que aprofundaram o complexo mundo dos elfos e anões criados por Tolkien.
“Foi um grande feito do meu pai ter assumido essa tarefa imensa. Lembro-me dos carregamentos de papéis que chegavam à sua casa e ninguém podia duvidar da escala do trabalho que ele havia assumido”, disse Simon.
Embora Christopher tenha trabalhado incansavelmente para proteger o legado de seu pai, ele não apreciou com o que viu como a comercialização de seu trabalho. Ficou famosa sua crítica da adaptação cinematográfica ganhadora do Oscar de Peter Jackson, O Senhor dos Anéis. Em uma entrevista de 2012 ao jornal francês Le Monde, Christopher disse: “Eles estriparam o livro, fazendo um filme de ação para jovens de 15 a 25 anos.”
Ele também disse: “Tolkien se tornou um monstro, devorado por sua própria popularidade e absorvido pelo absurdo do nosso tempo” e que “a comercialização reduziu a nada o impacto estético e filosófico da criação.”
Mais informações no The Guardian, onde você também pode ler o obituário de Christopher Tolkien.
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Marcela Santos Brigida é professora de literatura inglesa na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Doutora em Literaturas de Língua Inglesa (UERJ, 2022), defendeu tese sobre a obra da escritora irlandesa contemporânea Anna Burns. No mestrado (UERJ, 2020), pesquisou a relação entre a poesia de Emily Dickinson e a canção. É bacharel em Letras com habilitação em língua inglesa e suas literaturas (UERJ, 2018). Atuou como editora geral da Revista Palimpsesto (2020-2021). É coordenadora do projeto de extensão Literatura Inglesa Brasil (UERJ). Tem experiência nas áreas de literaturas de língua inglesa, literatura comparada e estudos interartes, com especial interesse no romance de língua inglesa do século XIX e na relação entre música e poesia.