O último dia 9 de março marcou o 157º aniversário do nascimento de Vita Sackville-West. Considerando que ela ainda é relativamente pouco discutida no Brasil para além dos círculos de pesquisadores do modernismo inglês, decidimos publicar um breve perfil da autora.
Victoria (Vita) Mary Sackville-West (1892-1962) foi uma prolífica escritora de ficção, poeta premiada e designer de jardins. Ela nasceu e cresceu em Knole House, Kent. Ela foi a única filha de Lionel Edward Sackville-West (que viria a se tornar o terceiro Barão Sackville) e sua prima, Victoria Sackville-West. Ela é muito conhecida pelo seu relacionamento com Virginia Woolf, tendo inspirado o personagem título do romance Orlando (1928), que Woolf também dedicou a ela.
Aos 21 anos, Vita se casou com o diplomata Harold Nicolson contrariando a vontade de sua família, que censurava a união devido à situação financeira de Nicolson1 O casal mantinha uma relação aberta. Seu filho mais jovem, Nigel Nicolson, também viria a se tornar um escritor.
Quando criança, Vita gostava de guiar visitas pela propriedade e expressou um grande apreço por Knole ao longo da vida. Alusões à propriedade figuram em vários de seus romances.2 Foi motivo de muito desgaste emocional e aborrecimento, portanto, o fato de ter sido impedida de herdar a casa onde cresceu3. O costume da família Sackville de seguir as regras sálicas de primogenitura impediu que Vita herdasse Knole após a morte do pai em 1928. Charles Sackville-West, irmão de Lionel e tio de Vita, herdou a propriedade e o título, tornando-se o 4º Barão Sackville.
HAROLD
Vita se casou com Harold Nicolson em 1913 na capela privada de Knole. O relacionamento se estendeu até a morte da escritora, em 1962. Eles tiveram dois filhos, Benedict (1914-1978), um historiador da arte, e Nigel (1917-2004), escritor, editor e político. Este último publicou em 1973 o livro Portrait of a Marriage, documentando o casamento dos pais.4
Em 1930, o casal comprou o Castelo de Sissinghurst. À época, a mansão elisabetana encontrava-se em más condições de conservação. Vita e Harold foram responsáveis por um importante trabalho de restauração da casa e do jardim da propriedade.
Cosmopolita na juventude, Vita recolheu-se progressivamente às vésperas e durante a Segunda Guerra Mundial, abrigando-se em Sissinghurst e dedicando-se à escrita de romances e livros sobre jardinagem, além de dedicar-se à manutenção do jardim da propriedade.
O site do National Trust informa que Vita começou a se engajar com a entidade em 1928, desempenhando um papel importante na transferência de Knole para a instituição após a morte do tio na década de 1940. Ela e Harold vieram a integrar o conselho do NT, para quem a titularidade de Sissinghurst foi transferida após a morte da escritora em 1962.
VIRGINIA
Harold e Vita mantinham um casamento aberto e ambos tiveram relacionamentos extraconjugais. A relação de Vita com Virginia Woolf, no entanto, é digna de nota não apenas pelo que a própria Virginia representa na tradição literária inglesa, mas porque o relacionamento em si ficou imortalizado na história literária na forma de Orlando (1928). Sendo assim, é interessante falarmos um pouco do que se sabe da dinâmica de Vita e Virginia.5
Em dezembro de 1922, Vita conheceu Virginia Woolf em uma festa em Londres.6 Sackville-West era uma grande admiradora da escrita de Woolf. Em uma carta à Virginia, ela compara as habilidades das duas e elogia a destinatária:
“Eu contrasto minha escrita iletrada com a sua escrita erudita e me envergonho.”7
A publicação do romance The Edwardians (1930) de Sackville-West pela editora de Virginia e Leonard Woolf foi um sucesso estrondoso, vendendo 30000 exemplares nos primeiros seis meses. Este incentivo ajudou a Hogarth a se estabilizar financeiramente e viabilizou a publicação de obras mais experimentais de Woolf, como The Waves (1931)86.
As tensões subjacentes ao longo, afetuoso e intenso – emocional e intelectualmente – relacionamento de Sackville-West e Woolf chegaram ao seu ápice com o envolvimento de Harold com Oswald Mosley e o New Party, mais tarde renomeado para British Union of Fascists ou União Britânica de Fascistas. O contraste do posicionamento das duas mulheres: Vita apoiava o rearmamento e, como todo leitor de ensaios como Three Guineas (1938), Thoughts on Peace in an Air Raid (1940) sabe, Woolf era uma pacifista e não acreditava haver na guerra uma resposta para as questões que procurava pensar em sua obra crítica. Nesse momento histórico carregado e de uma cisão irreconciliável de posições, Vita e Virginia terminaram seu relacionamento em 1935.
O filho de Vita, Nigel, descreveu Orlando como “a carta de amor mais longa e encantadora na literatura”9 Woolf se inspirou em Sackville-West para escrever o romance e o dedicou a ela.
LEGADO
O poema narrativo de Sackville-West, The Land, venceu o Hawthornden Prize em 1927. Trata-se do mais antigo prêmio literário britânico. Vita tornou-se a única escritora a ser premiada pela segunda vez com o Hawthornden pelos seus Collected Poems em 1933.
Em 1947, a escritora foi incluída na Ordem dos Companheiros de Honra pelos serviços prestados à literatura. Sua coluna semanal no The Observer chamada “In Your Garden” se tornou um clássico da área de escritas de jardinagem. Ela foi um dos membros fundadores do comitê do jardim de Knole. Ela também projetou o hoje amplamente reconhecido Jardim do Castelo de Sissinghurst, visitado por jardineiros e entusiastas do mundo inteiro.
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Um perfil de Vita publicado por Allison Adler Kroll (Universidade de Oxford) no site do National Trust focaliza a relação da escritora com a instituição.
Publicado por
Marcela Santos Brigida é professora de literatura inglesa na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Doutora em Literaturas de Língua Inglesa (UERJ, 2022), defendeu tese sobre a obra da escritora irlandesa contemporânea Anna Burns. No mestrado (UERJ, 2020), pesquisou a relação entre a poesia de Emily Dickinson e a canção. É bacharel em Letras com habilitação em língua inglesa e suas literaturas (UERJ, 2018). Atuou como editora geral da Revista Palimpsesto (2020-2021). É coordenadora do projeto de extensão Literatura Inglesa Brasil (UERJ). Tem experiência nas áreas de literaturas de língua inglesa, literatura comparada e estudos interartes, com especial interesse no romance de língua inglesa do século XIX e na relação entre música e poesia.
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