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Quatro clássicos das Literaturas de Língua Inglesa escritos por mulheres para ler no inverno

A imagem apresenta o livro "Morro dos Ventos Uivantes" em cima de um cobertor e ao lado de marca-textos

É agosto. O frio se instalou em nossas terras tropicais. E se você é como eu, desacostumada a funcionar em temperaturas abaixo dos vinte graus, pode ser penoso seguir com a rotina nos meses de meio de ano. Pouco mais da metade dos dias já se passou, outra metade ainda falta passar, nos encontramos nesse limbo em que não só é mais difícil encarar os ventos de agosto do lado de fora, mas também encontrar o gás e motivação para continuar produtiva quando tudo que o corpo pede é uma caneca de chocolate quente, um cobertor e dois gatos ronronando ao pé da cama. 

Mas se existe algo que a maturidade que vem ao longo dos anos me ensinou é que não vale a pena brigar com certas coisas, mas sim aceitá-las e fazê-las funcionar do jeitinho que são. Esse ano, resolvi parar de lutar contra o meu desânimo de inverno e entender que esse momento do ano pode ser uma oportunidade de colocar o pé no freio da correria, de desacelerar, de refletir, de ponderar. Que venham o chocolate quente, o cobertor e os gatos. Do lado de fora os ventos tremem os vidros da janela, um ciclone passa longe em alto mar. Eu estou aqui dentro, e uma noite longa de inverno se anuncia a minha frente. 

E é justamente para te distrair durante as suas noites longas que compartilho os livros que me ajudam a passar as minhas. São livros que para mim, por razões diferentes, combinam com o barulho do vento e com o chocolate quente. Então feche bem as janelas, e aqui vamos nós!

 

   1) Frankenstein, de Mary Shelley (1818).

“This breeze, which has travelled from the regions towards which I am advancing, gives me a foretaste of those icy climes. Inspirited by this wind of promise, my day dreams become more fervent and vivid; it ever presents itself to my imagination as the region of beauty and delight”.

Você vai encontrar a citação acima logo nas primeiras páginas que abrem o texto original de 1818. Não poderíamos começar em um clima mais invernal: o capitão Walton viaja pelas terras geladas do Ártico em direção à Rússia quando encontra um viajante misterioso e solitário em uma busca frenética por alguém que lhe escapou…

É assim que somos apresentados à história de Victor Frankeinstein e sua criatura na obra magnífica de Mary Shelley, que tinha apenas 19 anos quando a escreveu – um feito notável, já que o livro investiga temas diversos e profundos como a busca incessante pelo conhecimento, o avanço científico e tecnológico, em suma, a própria natureza humana. 

Começamos acompanhando a infância idílica de Victor Frankenstein nos Alpes Suíços. Ele cresce com uma curiosidade e sede de conhecimento pelos mistérios que envolvem a vida e a morte. Assim, Victor se torna um estudante de filosofia natural e resolve experimentar com os limites da ciência e da natureza ao tentar dar vida a um ser feito de partes de corpos mortos. Seu feito resulta em uma criatura complexa que faz Victor (e os leitores) indagar sobre a separação entre morte e vida, entre o humano e o monstruoso, entre o belo e o terrível. Um livro que, assim como a paisagem do Ártico e dos Alpes, e como o próprio inverno, é cheio de dualidades que nos fazem refletir sobre nossa própria condição. 

 

   2) O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Bronte (Wuthering Heights, 1847).

“My love for Linton is like the foliage in the woods: time will change it, I’m well aware, as winter changes the trees. My love for Heathcliff resembles the eternal rocks beneath: a source of little visible delight, but necessary”. 

Feche bem as janelas mesmo, pois sabe-se lá o que pode estar à espreita do lado de fora, implorando para entrar… 

Este livro segue a perspectiva de Nelly, que trabalha na enorme e assustadora mansão Wuthering Heights – O Morro dos Ventos Uivantes, que carrega esse nome devido às condições climáticas das charnecas que a rodeiam, impondo seus vendavais, suas tempestades e nevascas à solitária casa no alto da colina. Nelly explica os eventos da infância de seu misterioso dono, Heathcliff, para o forasteiro Sr. Lockwood, que deve passar uma noite na mansão após ficar preso lá durante uma grande nevasca. 

Acompanhamos o conturbado relacionamento entre a jovem Catherine Earnshaw e Heathcliff, um menino que morava nas ruas e que, após ser encontrado pelo pai de Catherine, é levado para morar na mansão. Os dois crescem juntos, correndo livres pelos campos selvagens e inóspitos que rodeiam a casa, criando um laço profundo de cumplicidade. 

Tudo é colocado à prova, porém, quando depois de um acidente, Catherine conhece o jovem Edgar Linton de Thrushcross Grange, a sofisticada mansão ao sopé da colina. São dois mundos que colidem: a ordem, a sofisticação, a riqueza e a civilização de Thrushcross Grange e de Edgar Linton contra a natureza indomada, as tempestades, e a ferocidade de Wuthering Heights e Heathcliff. Uma escolha poderá mudar a vida de todos aqueles que moram, e que irão morar, nas duas mansões. 

 

  3) Adoráveis Mulheres, de Luisa M. Alcott (Little Women, 1868).

“Beauty, youth, good fortune, even love itself, cannot keep care and pain, loss and sorrow, from the most blessed for… into each life some rain must fall, some days must be dark and sad and dreary.”

Este livro é perfeito para o inverno pois, ao contrário de O Morro dos ventos Uivantes que usa e abusa do frio, dos ventos e das tensões nos relacionamentos familiares, Adoráveis Mulheres nos aquece por dentro ao demonstrar como a união entre família e amigos e o amor entre irmãs podem nos ajudar a encarar as tragédias e adversidades da vida. 

A história começa nos dias nevados das festas de fim de ano durante a infância feliz das irmãs March: A mais velha, Meg, encanta por sua beleza e candura. Apesar de ter os pés bem firmes no chão, ela sonha com um amor tranquilo e uma vida repleta de coisas bonitas, e precisa encarar a escolha entre ambição material e simplicidade para realizar a vida que sonha. Jo é impulsiva, corajosa e aventureira. Ela não se conforma com as convencionalidades que a impedem de conquistar seus sonhos de ser escritora e questiona todas as regras de conduta para jovens moças recatadas, se destacando por seu modo de vida fora das normas impostas pela tradição. Ao contrário das personalidades efusivas de suas irmãs, Beth é tranquila e introvertida. Sua felicidade é passar seus dias tocando piano, enquanto observa carinhosamente a vida de sua família. Já Amy é a mais nova e mais espevitada. Não tem medo de dizer o que quer e precisa aprender a não deixar seus impulsos e vontades individuais entrarem no caminho da harmonia familiar. 

Acompanhamos as meninas enquanto elas crescem e são moldadas pelos acontecimentos da vida. Juntas, elas devem enfrentar a escassez de uma guerra, ausências de pessoas queridas, mortes e desilusões amorosas que quebram as lentes encantadas da infância idílica, mas que as preparam para viver como mulheres fortes em um mundo de homens. 

 

  4) Assassinato no Expresso do Oriente, de Agatha Christie (1934).

“O trem chegou a Konya essa noite, depois das onze e meia. Os dois ingleses desembarcaram, para exercitar os músculos, na plataforma, branca de neve. Poirot distraía-se observando o movimento da estação através da janela fechada. Ao fim de dez minutos, convenceu-se de que não seria mau tomar um pouco de ar. Tomou a precaução de se enrolar em diversos sobretudos e de enfiar as galochas; assim protegido, pôs-se a percorrer a plataforma, afastando-se do trem. Foram as vozes conhecidas que lhe permitiram identificar os dois vultos indistintos, encolhidos à sombra de um vagão”.

Para fechar nossa noite, um mistério de assassinato para se ler de uma única vez! 

O famoso detetive Hercule Poirot está retornando de mais um caso bem-sucedido, aproveitando sua viagem no luxuoso Expresso do Oriente. Enquanto o trem atravessa as planícies cobertas de neve em direção à Istambul, uma nevasca o obriga a parar. 

Antes dessa interrupção inconveniente, um passageiro misterioso confidencia a Poirot que teme ser assassinado a qualquer momento. E parece que, realmente, quem quer que quisesse matá-lo, aproveitou que todos os passageiros se encontravam presos dentro de uma locomotiva parada no meio de uma nevasca para cometer o crime. Ele só não contava com a presença inesperada do detive mais famoso do mundo no mesmo lugar… 

Nesse crime trancado a sete chaves, Poirot deve analisar cada passageiro que divide as restritas cabines do Expresso do Oriente, pois um assassino – ou mais de um – pode se encontrar entre eles. Entre segredos e sussurros, Poirot percebe que qualquer um pode esconder um segredo, e apenas o trem e a neve seriam as testemunhas de um crime cometido no meio de uma noite fria de inverno. 

 

Então prepare o chocolate quente para ler – ou reler – qualquer um desses clássicos que, com certeza, irão desanuviar uma mente aflita pela desmotivação, ou aquecer um coração preocupado, ou até mesmo arrepiar cada fio de cabelo sem você nem precisar sair de casa em uma noite de inverno. 

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