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Simon Armitage é o novo poeta laureado do Reino Unido5 min read

Com informações do The Guardian.

O poeta de West Yorkshire, Simon Armitage, que antes de ser escritor, trabalhou como agente de condicional, foi nomeado o 21º poeta laureado do Reino Unido. Ele descreve sua escrita como “no-brow”1.

Armitage recebeu um telefonema de Theresa May lhe oferecendo o cargo no dia 9 de maio. O poeta disse que seus pais choraram quando ele contou a notícia. Segundo Armitage, os dois haviam ficado apreensivos em 1994, quando ele abandonou seu emprego para ser poeta em tempo integral.

“Eu estava desistindo de uma profissão, um salário, e de muita segurança por algo que lhes parecia muito fluido e incerto”, disse ele. “Então, poder falar com eles 30 anos depois e dar essa notícia me pareceu muito significativo. Eles simplesmente começaram a chorar. Recebi uma mensagem do meu pai depois: ‘Nós paramos de chorar agora’. Mas ele é muito espirituoso, o meu pai, e ele acrescentou: ‘Se o seu avô estivesse vivo hoje, isso o teria matado.'”

O ofício de poeta laureado – a maior honraria literária do Reino Unido – tem suas raízes no século XVII, quando Ben Jonson passou a receber uma pensão do rei James I por seus serviços à coroa. Armitage receberá uma bolsa anual de £5.750, juntamente com o pacote tradicional: 600 garrafas de xerez. Esta não é mais uma posição vitalícia e, assim como seus antecessores Carol Ann Duffy e Andrew Motion, Armitage deve ficar na função por um período fixo de 10 anos.

Armitage disse que não hesitou em aceitar o convite: “É um grande compromisso, mas se você me perguntasse há 30 anos quais eram os meus objetivos, isso poderia estar na lista. E eu sinto que tenho escrito o tipo de poesia voltada para o público que este papel exigirá por um bom tempo agora”.

Ele espera usar a posição para “agir de maneira diplomática, como uma espécie de negociador entre o que inevitavelmente é uma forma de arte especializada e as pessoas que querem lê-la e responder ocasionalmente com poesia”.

Ele também usará seu estipêndio para criar “algo no campo das mudanças climáticas” – um prêmio ou um evento. “É que me parece que responder a essa questão é uma obrigação de todos nós e de todas as formas de arte”, disse ele. “Isso se enquadra em toda a nossa política, então eu quero encontrar uma maneira de gravar e incentivar a resposta da poesia a essa situação.”

A posição de poeta laureado não traz exigências formais, e os contemplados podem decidir se querem ou não escrever poesia para eventos nacionais e reais. Armitage disse que não tem ideia se seria capaz de escrever poesia por encomenda. “Se eu soubesse onde posso obter poemas, eu iria até lá pegá-los o tempo todo”, disse ele. “A única coisa sobre a qual eu tenho certeza é que não vou entregar nenhum trabalho que eu não ache que está bom o bastante.”

O poeta, cuja escrita se baseia no rico vernáculo do norte inglês, combinando com o cotidiano com o filosófico, explodiu na cena literária em 1989 com sua primeira coleção, Zoom!

Descrito pelo poeta Sean O´Brien como “o primeiro poeta com uma intenção artística séria desde que Philip Larkin se tornou popular”, Armitage cresceu na aldeia de Marsden, em uma casa que aparece em Zoom! Ele estudou Geografia em Portsmouth, escrevendo uma dissertação de mestrado sobre os efeitos da violência na televisão sobre jovens infratores.

Hoje, autor de 28 coleções de poemas, Armitage faz parte do currículo nacional e seu trabalho está profundamente enraizado na psique britânica – além de ter sido esculpido nos Montes Peninos, onde poemas seus aparecem em seis “Stanza Stones” entre Marsden e Ilkley. Tendo produzido desde uma tradução do poema em inglês medieval Sir Gawain and the Green Knight até um olhar poético mais recente sobre um mundo em colapso, The Unaccompanied, ele é um dos poetas que mais vendem no Reino Unido.

Armitage já era um dos favoritos para o posto de poeta laureado quando Andrew Motion deixou o cargo em 2009, descrevendo a experiência na época como “o som de um trem que se aproximava cada vez mais e depois ia para outra direção”. No entanto, à época, os oficiais optaram por Carol Ann Duffy, a primeira mulher a ocupar a posição.

A busca pelo sucessor da poeta escocesa começou em novembro do ano passado, quando o Departamento de Cultura, Mídia e Esporte nomeou um painel de especialistas para apresentar uma lista. Sabe-se que as autoridades queriam um candidato com conexões com a Commonwealth. Nenhum poeta negro ou membro de uma minoria étnica ocupou o posto. Acredita-se que a lista tenha incluído nomes como Imtiaz Dharker, Daljit Nagra e Alice Oswald, mas Dharker recusou a posição para se concentrar em sua escrita. Motion havia avisado em 1998: “Minha criatividade secou completamente há cerca de cinco anos e não consigo escrever nada além do que é comissionado.”

Armitage disse que espera ter tempo para continuar a escrever sua própria poesia, mas admitiu que não há como saber como vai ser: “Eu já produzi muito, então não é que eu queira me aposentar, mas sinto que está na hora de retribuir”, disse ele. “Eu me saí bem com a poesia, ela me serviu bem e acho que eu a servi bem, e acho que posso incentivar outras pessoas a partirem para uma aventura semelhante.”

Publicado por

Marcela Santos Brigida
Professora na UERJ | Website

Marcela Santos Brigida é professora de literatura inglesa na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.  Doutora em Literaturas de Língua Inglesa (UERJ, 2022), defendeu tese sobre a obra da escritora irlandesa contemporânea Anna Burns. No mestrado (UERJ, 2020), pesquisou a relação entre a poesia de Emily Dickinson e a canção. É bacharel em Letras com habilitação em língua inglesa e suas literaturas (UERJ, 2018). Atuou como editora geral da Revista Palimpsesto (2020-2021). É coordenadora do projeto de extensão Literatura Inglesa Brasil (UERJ). Tem experiência nas áreas de literaturas de língua inglesa, literatura comparada e estudos interartes, com especial interesse no romance de língua inglesa do século XIX e na relação entre música e poesia.

1 comentário em “Simon Armitage é o novo poeta laureado do Reino Unido5 min read

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