Um pedido para o governo oferecer financiamento urgente “para proteger nosso cenário cultural” foi enviado ao Secretário de Cultura britânico: O teatro Shakespeare’s Globe alertou que enfrenta insolvência sem ajuda extra.
Julian Knight, presidente de um comitê formado da Câmara dos Comuns para explorar o impacto do coronavírus nas indústrias criativas britânicas, escreveu ao Secretário da Cultura, Oliver Dowden, pedindo apoio adicional, noticiou o The Guardian nesta segunda-feira.
O apelo foi feito após o comitê de comunicação digital, cultura, mídia e esporte publicar evidências recebidas de organizações como o Shakespeare’s Globe, o Donmar Warehouse e o Really Useful Group, de Andrew Lloyd Webber de que as mesmas correm riscos.
Knight disse que as evidências “demonstram a escala do desafio que o setor cultural enfrenta, particularmente os teatros.”
As evidências do Globe são particularmente fortes. O teatro foi inaugurado no South Bank de Londres em 1997 e tem sido um sucesso internacional, atraindo mais de um milhão de visitantes anualmente.
“Apesar de sermos bem administrados, bem dirigidos e – crucialmente – capazes de operar sem subsídio público, não seremos capazes de sobreviver a esta crise”, afirmou a direção do teatro. Isso seria “uma tragédia para as artes, para o legado do escritor mais famoso da Inglaterra, mas também para o país, se nosso espaço icônico ficar vazio.”
O Globe impôs “uma redução radical de custos” e está usando o esquema de licenças profissionais do governo para se manter. Mas a instituição não é elegível para um pacote de suporte de emergência disponibilizado pelo Arts Council England para a grande maioria das organizações artísticas do país.
“Somos um modelo para o setor de artes não subsidiadas… mas, diante de uma crise como esta, não há mecanismo para nos ajudar. Isso foi devastador financeiramente e pode até significar o nosso fim.”
O Shakespeare’s Globe se encontra em uma posição semelhante ao The Old Vic. Seu diretor artístico Matthew Warchus na semana passada alertou que o teatro estava em uma posição “seriamente perigosa”. Teatros locais também disseram ao The Guardian que estão em um “estado de alto risco”.
Knight disse que o Shakespeare’s Globe é um exemplo importante da imensa contribuição das artes para a economia do Reino Unido. “Ver este tesouro nacional sucumbir ao Covid-19 seria uma tragédia”, ele disse.
“Como muitos teatros e casas em todo o país, ele enfrenta uma luta pela sobrevivência e um futuro incerto. O fim do lockdown não significará um funcionamento normal automático para as indústrias criativas.”
“O governo deve agir agora e encontrar mais fundos para proteger nosso cenário cultural e salvaguardar nosso rico passado, dando esperança àqueles cujos meios de subsistência dependem disso.”
As evidências publicadas recentemente incluem um alerta do Theatres Trust antecipando o fechamento de uma proporção significativa de teatros.
“Essa erosão da infraestrutura cultural pode ter um impacto duradouro no acesso às artes, às carreiras nos setores criativos e na posição do Reino Unido como líder mundial nesse setor e como um dos principais contribuintes para o turismo,” afirma a instituição.
O Really Useful Group de Lloyd Webber disse que o cancelamento e o adiamento de 27 produções, de O Fantasma da Ópera na Broadway e no West End a Sunset Boulevard no Japão, representam uma perda anual de bilheteria de 320 milhões de libras e uma perda de 12,5 milhões de libras em renda.
Ele disse que o Reino Unido pode aprender algo com a Coreia do Sul, onde O Fantasma está atualmente realizando performances em um local com 1.600 lugares. A lotação não foi reduzida.
“Seul, uma grande cidade cosmopolita com uma população de 9,87 milhões de pessoas, oferece um estudo de caso valioso para Londres, com sua população de 8,98 milhões de pessoas”, afirma o estudo.
Um porta-voz do Departamento de Comunicação Digital, Cultura, Mídia e Esporte disse: “Estamos fornecendo um apoio sem precedentes para o setor cultural, incluindo o regime de retenção de empregos, suspensão de um ano da cobrança de taxas de negócios e o pacote de resposta de emergência de 160 milhões de libras do Arts Council.
“Agora estamos trabalhando em estreita colaboração com a indústria para planejar o futuro e, assim que for seguro, incentivaremos todos a sair e experimentar novamente as fantásticas ofertas teatrais e culturais do Reino Unido.”
Publicado por
Marcela Santos Brigida é professora de literatura inglesa na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Doutora em Literaturas de Língua Inglesa (UERJ, 2022), defendeu tese sobre a obra da escritora irlandesa contemporânea Anna Burns. No mestrado (UERJ, 2020), pesquisou a relação entre a poesia de Emily Dickinson e a canção. É bacharel em Letras com habilitação em língua inglesa e suas literaturas (UERJ, 2018). Atuou como editora geral da Revista Palimpsesto (2020-2021). É coordenadora do projeto de extensão Literatura Inglesa Brasil (UERJ). Tem experiência nas áreas de literaturas de língua inglesa, literatura comparada e estudos interartes, com especial interesse no romance de língua inglesa do século XIX e na relação entre música e poesia.
Pingback: Cultura britânica em risco: National Theatre lidera pedido de socorro