Da autora inglesa de The Bookshop (1978, adaptado pela Netflix em 2017) The Beginning of Spring (1988) foi finalista do Booker Prize e conta uma história única e intrigante. Quando peguei o livro, que foi encontrado por acaso em uma livraria, fiquei extremamente curiosa com sua premissa: um homem chamado Frank Reid, morador de Moscou em 1913, um dia descobre que sua esposa, Nellie, e seus filhos pegaram um trem para a Inglaterra, sem mais explicações.
Com a leitura da carta que Nellie deixou com aqueles que trabalhavam em sua casa, Frank conta o que ocorreu:
‘Elena Karlovna foi embora’, ele disse, ‘e ela levou consigo as três crianças, por quanto tempo, eu não sei. Ela não me disse quando irá retornar.’ (p.7)
Pai e marido, agora sentia que só lhe restavam poucas coisas, a pequena gráfica que seu pai havia montado quando imigrou para Moscou da Inglaterra na década de 1870, trazendo todo o maquinário de impressão junto, além dos escritos de seu autor favorito, Tolstói.
A partir deste cenário montado por Fitzgerald, acompanhei um desenrolar de eventos após o conflito inicial estabelecido objetivamente nas primeiras páginas e a sensação não poderia ter sido outra: um mergulho extremamente psicológico e profundo nas vidas e sensações desses homens e mulheres de Moscou em 1913. Fitzgerald demonstra maestria ao criar um romance complexo, levando o leitor a submergir em sua prosa detalhada que se descasca como uma cebola ou, melhor ainda, como uma boneca russa.
Através de diversos personagens, entre conflitos e um toque de comédia, The Beginning of Spring se encaixa no recorte geográfico e temporal preciso que foi proposto pela autora, com a grande Revolução Russa prestes a implodir, juntamente da Primeira Guerra Mundial. Em Penelope Fitzgerald: A Life (2013), a biógrafa Hermione Lee nos conta mais sobre as ideias da autora sobre essa época, que teriam surgido através de um amigo suíço que foi criado na Rússia e teria vivido lá durante a Primeira Guerra, a revolução Bolchevique, a chegada de Lênin. Além disso, a autora demonstrou ser especialmente interessada no período em que o seu livro se passa: o pré-guerra, por ser, como declarou, “um tempo de grande esperança…, da chegada do século XX, de um novo mundo, da ‘New Woman’, de uma nova relação entre o artista e o artesão.” Todos esses elementos podem ser facilmente encontrados em sua prosa irreverente, que transmite veracidade e, acima de tudo, familiaridade.
Apesar de sermos constantemente raptados pelas idas e vindas dos personagens e pequenos acontecimentos do livro, o romance conclui-se lindamente no último capítulo, que dá ao leitor um belo cachecol feito do novelo de lã proposto ao início da leitura. Nesta obra sublime, Penelope Fitzgerald é capaz de emular o romance Russo, evocando Tolstói e seus conterrâneos, enquanto traz consigo uma prosa calma e, ao mesmo tempo, instigante.