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Pesquisador encontra poema inédito de Siegfried Sassoon3 min read

Mais de cinquenta anos após a morte de Siegfried Sassoon, um poema inédito de oito versos do autor foi descoberto por um pesquisador nos arquivos de Glen Byam Shaw (a quem o poema foi dedicado) em Cambridge. O poema foi publicado pela primeira vez hoje, 9 de junho, pelo The Observer.

Julian Richards, de 26 anos, aluno de doutorado da Warwick University, estava examinando centenas de cartas mantidas nos arquivos do ator e diretor Glen Byam Shaw na Universidade de Cambridge se quando deparou com uma datada de 24 de outubro de 1925. A correspondência incluía um poema escrito à mão, e o pesquisador disse ter ficado impressionado com os versos “sinceros e pessoais”.

Em entrevista ao The Guardian, ele disse:

“Sassoon escreve na carta sobre Shaw ter passado a noite anterior com ele, antes de mencionar que escreveu alguns versos, que ele mesmo não parece achar muito bons, para Shaw.”

Richards tentou em vão encontrar o poema em outro lugar. Agora, a maior pesquisadora da obra de Sassoon no mundo confirmou que o poema jamais havia sido publicado.

Jean Moorcroft Wilson, autora da aclamada biografia, Siegfried Sassoon: Soldier, Poet, Lover, Friend, disse: “Eu não tinha visto esse poema antes. O importante é que ele foi escrito numa época em que Sassoon acreditava que a poesia havia o abandonado. Ele achava muito difícil escrever poesia na década de 1920. Ele tinha obtido tanto sucesso como um War Poet que não sabia exatamente onde sua poesia estava. Ele estava tendo dificuldades para encontrar um tema.”

Sobre o poema, ela disse: “Não tenho dúvidas de que é sobre Glen Byam Shaw. É muito parecido com os poemas que Sassoon escreveu para seu primeiro amor depois da guerra, Gabriel Atkin, embora os resultados desse relacionamento tenham sido muito diferentes. Glen era uma pessoa muito legal, muito gentil e imaginativa, e não tratava Sassoon mal e não era infiel.”

O poema é um lembrete de como a vida era difícil para ele em um momento em que “a homossexualidade era proibida”, disse ela. “Certamente, para as pessoas que o conheciam, seria bastante óbvio que não era sobre uma mulher que ele estava falando no poema. Os dois homens tinham sido apresentados um ano mais cedo, mas esta foi a primeira vez que se encontraram sozinhos. Isso foi escrito depois da primeira noite realmente íntima que eles tiveram juntos. Foi quando eles fizeram amor pela primeira vez?”

Ela acrescentou que poemas de amor de Sassoon escritos para homens “tendem a ser não-específicos”, que ele finge ter escrito para uma mulher em um poema como “The Imperfect Lover”, mas que a obra na verdade foi inspirada por Atkin, porque Sassoon o havia enviado para Atkin. 

O relacionamento com Shaw terminou amigavelmente. Eles permaneceram amigos próximos. Ambos eventualmente encontraram esposas, embora o casamento de Sassoon não tenha dado certo.

Julian Richards observou que a correspondência entre o poeta e o diretor refletia afeição e respeito. Shaw, que teve sua estreia como ator em Londres em 1925, tornou-se um celebrado diretor, trabalhando com Laurence Olivier e Vivien Leigh, entre outros, no Shakespeare Memorial Theatre, em Stratford-upon-Avon.

A pesquisa de Richards o levou ao Shakespeare Birthplace Trust, em Stratford, que abriga cadernos de Shaw, entre outros materiais. Ele foi ao arquivo de Cambridge em busca das cartas do diretor. “Encontrei o poema de Sasson por acaso”, ele disse. “Eu não estava pesquisando Sassoon. Eu estava pesquisando Shaw.”

A professora Carol Rutter, orientadora de doutorado de Richards em Warwick, disse: “Mais estudantes precisam entrar em arquivos e descobrir o que eles contêm. O que é realmente empolgante como orientadora é ter um aluno que faz sua investigação com afinco e depois tem um momento tremendamente empolgante quando se depara com algo assim. É uma comunicação instantânea com o passado. Mas também é o começo da próxima pergunta que você quer fazer.”

Você pode ler o poema inédito de Sassoon no site do The Guardian.

Publicado por

Marcela Santos Brigida
Professora na UERJ | Website

Marcela Santos Brigida é professora de literatura inglesa na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.  Doutora em Literaturas de Língua Inglesa (UERJ, 2022), defendeu tese sobre a obra da escritora irlandesa contemporânea Anna Burns. No mestrado (UERJ, 2020), pesquisou a relação entre a poesia de Emily Dickinson e a canção. É bacharel em Letras com habilitação em língua inglesa e suas literaturas (UERJ, 2018). Atuou como editora geral da Revista Palimpsesto (2020-2021). É coordenadora do projeto de extensão Literatura Inglesa Brasil (UERJ). Tem experiência nas áreas de literaturas de língua inglesa, literatura comparada e estudos interartes, com especial interesse no romance de língua inglesa do século XIX e na relação entre música e poesia.

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