Literatura Inglesa Brasil

Projeto MACMORRIS pretende mapear a atuação irlandesa no Renascimento Europeu

Aquarela de Mulheres e Homens Irlandeses (circa 1575) | Obra de Lucas de Heere (1534-1584)

Um artigo publicado no The Irish Times por Ronan McGreevy aborda o interessante Projeto MACMORRIS, que, através de uma plataforma digital, pretende montar um acervo que mapeie a produção artística e o contexto histórico da Irlanda no período que antecedeu a Batalha de Kinsale em 1601.

“A derrota dos chefes gaélicos na Batalha de Kinsale (1601) e a Fuga dos Earls (1607) que se seguiu são amplamente consideradas duas das maiores calamidades da história da Irlanda. O fim da Irlanda Gaélica prenunciou a Colonização de Ulster, a Conquista Cromwelliana e a Batalha de Boyne, três eventos que aconteceram no século XVII cujas consequências se estendem até hoje.”

O jornalista também aponta que, embora muitos historiadores analisem as décadas que antecederam Kinsale sob o prisma do que aconteceu após a batalha, os contemporâneos a esses eventos não supunham que seu modo de vida estava prestes a acabar. Isto é, McGreevy sublinha o que perdemos quando analisamos a história exclusivamente através de visões de mundo retroprojetadas. A partir da identificação desta lacuna, surgiu a ideia do projeto MACMORRIS.

A professora da Universidade de Maynooth Patricia Palmer recebeu um incentivo no valor de 1 milhão de euros pelo programa Advanced Laureate do Irish Research Council para criar uma base de dados online que disponibilize registros e rememore um período que a pesquisadora acredita ter sido “injustamente ignorado no estudo da história irlandesa”. O projeto almeja recuperar a complexidade dos “anos transformadores que se passaram entre o momento em que Henry VIII se tornou rei da Irlanda em 1541 até a Fuga dos Earls”.

A Prof.ª Palmer declarou:

“A sociedade irlandesa não era, de forma alguma, uma sociedade em queda livre, rumando inexoravelmente para a derrota. Na verdade, era um lugar muito vibrante, onde diversas tradições culturais e línguas floresceram, às vezes em diálogo, às vezes em conflito. Os ingleses recém-chegados, agentes da conquista, canalizaram as energias do Renascimento inglês no que foi uma conquista surpreendentemente letrada: foi um conflito em que as palavras importavam tanto quanto as espadas. A cultura gaélica é vibrante. O inglês vernáculo da Paliçada é vivaz e múltiplo. Agentes da conquista Tudor como Edmund Spenser trouxeram as energias – frequentemente sombrias – do Renascimento inglês para a Irlanda; e o contato com a Europa continental era rotineiro.”

O Projeto MACMORRIS

A Prof.ª Palmer declarou que o Projeto MACMORRIS “nos permite acessar um mundo diverso e poliglota que nos lembra o quão ricas e complexas são as origens da cultura irlandesa.”

MACMORRIS significa “Mapping Actors and Contexts: Modelling Research in Renaissance Ireland in the Sixteenth and Seventeenth Century (“Mapeando Atores e Contextos: Pesquisa de modelagem na Irlanda renascentista no século XVI e XVII”, em tradução livre). O nome também é uma referência a um personagem irlandês na peça Henry V de Shakespeare, apresentada originalmente em 1599.

O objetivo principal do projeto é criar o primeiro mapa digital anotado e interativo de todos os atores – de poetas, patrocinadores (mecenas) e panfleteiros, a tradutores, escritores de viagem, e administradores – deste rico período na história irlandesa.

Uma das linhas de atuação do MACMORRIS pretende registrar o papel que a Irlanda desempenhou no Renascimento Europeu, área que recebeu poucas contribuições acadêmicas.

A Prof.ª Palmer está entre 12 pesquisadores que receberam um incentivo no valor total de 11.8 milhões de euros da Irish Research Council através do IRC 2019 Advanced Laureate Awards Programme para desenvolver “projetos de pesquisa inovadores e de excelência internacional”.

O artigo em que a Patricia Palmer, David Baker e Willy Maley anunciam o projeto MACMORRIS foi publicado originalmente em setembro de 2018 no periódico Literature Compass e está disponível para leitura neste link.

Sair da versão mobile