Pular para o conteúdo

John Osborne é autor de maio do Literatura Inglesa BrasilLeitura em 7 minutos

Figura proeminente da produção teatral inglesa do final dos anos 1950 e início dos anos 1960, John Osborne foi selecionado para ser o autor de maio de 2025 do Literatura Inglesa Brasil. O dramaturgo, ator e roteirista nasceu na Londres de 1929, para uma família de classe média-baixa que ele descrevia no seu livro autobiográfico A Better Class of A Person, que, dos dois lados, “carregava-se desde o nascimento um coração bombeado por desconfiança. Não uma desconfiança orgulhosa de espírito, mas uma melancolia tímida, um mero desgosto da alegria, da coragem e do esforço” (1981). Vivendo com dificuldades, passou por diversos empregos antes de ser introduzido ao mundo teatral e encontrar-se nele. A partir disso, Osborne começou seus trabalhos como diretor de palco e também passou a desenvolver e voltar suas habilidades para a escrita. Em 1950, Osborne escreveu a sua primeira peça, The Devil Inside Him, com a ajuda de sua mentora e amiga Stella Linden — mas foi em 1956 que começou a atuar efetivamente como ator na cena inglesa, além de ser o ano de estreia da obra que o consagraria como um grande dramaturgo de seu tempo, Look Back In Anger, produzida pela English Stage Company

Osborne é famosamente conhecido por Look Back In Anger e pelo grande legado desta no cenário do teatro britânico – o que não significa que seja essa a sua única obra no mundo. Ele foi o precursor do Kitchen Sink Realism e o primeiro “angry young man” a escrever nesses moldes. Essa denominação visava reforçar essa insatisfação historicamente demarcada, e foi cunhada em uma resenha da estreia da peça no Royal Court Theater que também acabaria por denominar o conjunto de escritores britânicos por ele influenciados. Além disso, Osborne foi autor de outras peças notáveis como The Entertainer (1957), Luther (1961), que ganhou o Tony de Melhor Peça, e Inadmissible Evidence (1964), assim como, entre outros na sua carreira filmográfica, o roteiro de Tom Jones (clássico do cinema britânico e ganhador do Oscar e do BAFTA de melhor roteiro adaptado). Destaca-se, dessa maneira, o histórico do autor como escritor, ator e produtor de peças, programas de TV e filmes, não ignorando os seus mais prosaicos livros de não-ficção, os autobiográficos A Better Class of A Person (1981) e Almost a Gentleman (1991) e Damn you, England (1994), publicado poucos meses antes de seu falecimento.

O curto enredo da peça foi inspirado pela sua insatisfação enquanto membro da classe trabalhadora e possibilitou o florescimento de um novo cenário para o drama inglês, marcado por vozes dessa camada social. Apesar de não ser tão inovadora em sua forma, o seu conteúdo se diferenciava do que estava sendo encenado até então, retratando a vida contemporânea da baixa classe média de uma forma mais realista e focada no espaço doméstico (característica do movimento cultural que ficou conhecido como Kitchen Sink Realism). Esse movimento, para além da usual retratação e idealização das classes mais prestigiadas e da encenação de peças já conhecidas, provou para uma geração de autores que a Inglaterra contemporânea poderia ser interessante aos olhos do público e para o fazer artístico de modo geral. Osborne utilizou de discursos longos e potentes, de uma linguagem mais violenta e crua; e dos recursos dramáticos para retratar uma nova geração com preocupações totalmente diferentes da anterior, fortemente desiludida e enfurecida com o cenário global pós Segunda Guerra Mundial. Muitas dessas insatisfações são encarnadas pela figura de Jimmy Porter e sua frustração com a própria inadequação e mediocridade, atenuadas por um comportamento volátil que afeta as pessoas em seu entorno de diferentes maneiras. 

Sendo o Kitchen Sink Realism o realismo dos espaços domésticos da classe trabalhadora britânica, é tocante que não são somente as relações de tal população com o espaço sociopolítico que ficam em evidência. As relações interpessoais e familiares são a parte igualmente importante, de modo que os dois tipos de relações sejam co-existentes no movimento. Isso resulta na apresentação de um atravessamento de diferentes questões externas em lugares confinados, ou seja, uma tradução espontânea desses problemas socioculturais para problemas na vida compartilhada dos personagens.

Sendo o Kitchen Sink Realism o realismo dos espaços domésticos da classe trabalhadora britânica, é tocante que não são somente as relações de tal população com o espaço sociopolítico que ficam em evidência. As relações interpessoais e familiares são a parte igualmente importante, de modo que os dois tipos de relações sejam co-existentes no movimento. Isso resulta na apresentação de um atravessamento de diferentes questões externas em lugares confinados, ou seja, uma tradução espontânea desses problemas socioculturais para problemas na vida compartilhada dos personagens.

As invectivas de Jimmy são um dos aspectos mais marcantes e descritivos da peça. Sendo muito do protagonista admitidamente baseado em seu autor, pode-se perceber uma escrita imbuída de uma raiva bastante real que, adaptada para o palco, é explorada discursivamente no encontro com as cenas. Desse jeito, os discursos de Jimmy marcam muito através da profundidade linguística, cultural, histórica e criativa, por desenfrear-se na forma de um disparo preciso e exaustivo contra os seus arredores. Da mesma maneira que localiza materialmente o personagem, a escrita  mostra o ensimesmamento corrosivo do jovem, assim como sua xenofobia e misoginia nos ataques incessantes à sua companhia.

Sendo o Kitchen Sink Realism o realismo dos espaços domésticos da classe trabalhadora britânica, é tocante que não são somente as relações de tal população com o espaço sociopolítico que ficam em evidência. As relações interpessoais e familiares são a parte igualmente importante, de modo que os dois tipos de relações sejam co-existentes no movimento. Isso resulta na apresentação de um atravessamento de diferentes questões externas em lugares confinados, ou seja, uma tradução espontânea desses problemas socioculturais para problemas na vida compartilhada dos personagens.

A dissidência de Osborne transformou um teatro decadente, ajudando-o a se reerguer enquanto uma potência artisticamente respeitada através de uma atenção maior para a retratação de uma intensidade emocional pungente e pouco explorada, fugindo de limitações formais e de conteúdo. O teatro de Osborne possibilitou também que as barreiras de classe e de representação artística fossem testadas, permitindo uma maior expressividade de diferentes subjetividades e temáticas. 

Como salientado por outro Angry Young Man, o escritor Allan Sillitoe,

“John Osborne não mudou o Teatro Britânico: ele instalou uma bomba e explodiu quase ele todo. Os entulhos retornaram aos seus lugares, claro, mas ele nunca será o mesmo”.

Sillitoe descreveu não apenas uma repaginação de estilo e conteúdo, como também uma grande alteração nas escolhas de quais escritores são apresentados, quais temas abordados juntos a estes, e quais públicos se tornaram audiência. Até hoje, é conhecido que os nomes em maior circulação no teatro e nas artes pertençam a pessoas da classe média britânica, que se distingue por já garantir aos seus membros um acesso avançado a contatos da indústria, a escolas renomadas e uma disponibilidade e aceitabilidade que são tanto materiais quanto culturais. Parte da explosão que Look Back In Anger disparou não foi tanto por meio de certa aprovação dos críticos, como foi pela repercussão que isso teve ao transportar a classe trabalhadora e os seus sentimentos, seus pensamentos, seus desejos, suas angústias, suas vidas e suas pessoas para o campo das artes. Dessa maneira, ao apresentar tal escrita de natureza fortemente autobiográfica no palco, Osborne deu força para todo um movimento e classe entender o seu estado psíquico como um fato que é correspondente a sua realidade e não somente um sentimento sozinho.

 

Publicado por

É graduando em Letras - Inglês/Literaturas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e bolsista do projeto de extensão Literatura Inglesa Brasil, sob orientação da Profa. Dra. Marcela Santos Brigida.

É graduanda em Letras - Inglês e literaturas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e bolsista do projeto de extensão Literatura Inglesa Brasil, sob orientação da Profa. Dra. Marcela Santos Brigida.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *