Nascido em 1924 no Harlem, em Nova Iorque, James Baldwin atuou como novelista, ensaísta e dramaturgo, e a sua contribuição para os debates sobre a negritude, sexualidade e política o tornou uma das vozes mais importantes do século XX. Baldwin foi o filho mais velho entre nove crianças e filho de uma mãe solteira e, enquanto crescia, o autor encontrou refúgio na leitura, frequentando assiduamente a biblioteca de sua cidade.
“Eu ia pelo menos três ou quatro vezes e lia de tudo lá. Quero dizer, todo livro naquela biblioteca. De uma maneira cega e instintiva, eu sabia que o que estava acontecendo naqueles livros era também o que acontecia ao meu redor no momento. E eu estava tentando fazer uma conexão entre aqueles livros e a vida que eu vi e a vida que eu vivi.”
A educação de Baldwin, mesmo em uma idade mais tenra, pode ser percebida em suas obras escritas mais tardiamente. Em sua primeira escola pública, ele foi ensinado a ler ao mesmo tempo que convidado à leituras das obras do teórico e ativista da diáspora africana Arturo Alfonso Schomburg. O incentivo não foi por acaso, tendo em vista que, segundo o escritor, muitos dos seus professores da escola pública eram os próprios “sobreviventes” da Renascença de Harlem, entre eles o renomado poeta Countee Cullen. No entanto, esse interesse literário e intelectual, além do envolvimento com amigos que adentravam com ele no universo artístico, entrava em confronto com os ideais de seu padrasto David Baldwin que, sendo pastor, acreditava que isso distanciava Baldwin de sua própria salvação. Apesar disso, a influência do pai foi muito importante para o escritor, e ele foi representado em obras como o romance semi autobiográfico, Go Tell it on the Mountain (1952).
A partir dos conhecimentos que adquiriu, Baldwin começou a escrever poemas, contos e peças já em sua juventude, e o seu desenvolvimento como escritor também foi muito marcado pelo seu trabalho como pastor nos anos finais da sua adolescência. Mesmo que por influência do pai, as pregações tiveram um grande impacto em sua retórica, e a convivência dentro da religião fez com que ele tivesse contato com muita angústia, desespero e beleza — o que promoveu diversas temáticas, simbolismos e alusões para a sua escrita. Os anos 1940 também foram de suma importância para Baldwin: Nesse período, ele escreveu por longas horas, visando tornar-se um escritor, e também foi mentorado por Richard Wright, importante autor afro-americano do período. Em 1948, visando fugir do forte racismo existente nos Estados Unidos e também da homofobia do Harlem, emigrou para Paris, onde viveu pelos próximos oito anos. Mais tardiamente, ele viveu alternadamente entre os dois países, com algumas longas estadias na Turquia.
Suas primeiras publicações, ainda em Nova York, o garantiram a marcação de ensaísta e resenhista. Tais gêneros textuais continuariam para algumas de suas maiores obras, emergindo do seu contato com a literatura desde sua educação ao seu mentorado por Wright, juntamente da sua experiência racializada, como Notes on Native Son (1955), Fire Next Time (1963), e No Name in the Street (1972). Dialogando com assuntos da mesma origem, ele também publicou romances e mesmo uma peça, que ainda alimentavam laços com a não-ficção, como Go Tell it On the Mountain, inspirado por sua própria adolescência, ou Giovanni’s Room (1956), que já se originava no encontro dele com seu amado Lucien Happersberger em Paris, ou If Beale Street Could Talk (1974) que, ambientada no Harlem, narra as relações de um casal com suas famílias negras e o seu lugar na sociedade estadunidense.
É evidente que a violência racial enfrentada por Baldwin em toda a sua vida marcou a sua relação com o próprio país, com a igreja, sua família e a própria negritude. Dessa forma, a relação do autor com sua escrita e seu percurso podem ser vistos como os frutos de uma história intergeracional com a violência nos fundamentos da sociedade. É possível perceber uma ambivalência entre as trocas com seus contatos a respeito de literatura e a sua origem familiar e social e a descoberta da sua sexualidade. Esses aspectos de sua vida e a sua convivência com diferentes contatos, lugares, ambientes de trabalho foram desenvolvidos em sua escrita e nas diversas digitais traçadas ao longo de sua vida. Essas questões mostram como o trabalho de Baldwin ainda é de grande importância para a literatura e o pensamento contemporâneo, mesmo após a sua morte em 1987, especialmente no que tange o ativismo e os movimentos sociais.