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IPOTESI celebra 90 anos de A Room of One’s OwnLeitura em 7 minutos

Foi publicado o novo número da Revista IPOTESI celebrando os 90 anos de A Room of One’s Own de Virginia Woolf! Segue abaixo o texto de apresentação da Profa. Dra. Nícea Helena de Almeida Nogueira, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Estudos Literários da UFJF e de Patrícia de Paula Aniceto, doutoranda em Letras: Estudos Literários e bolsista PBPG da UFJF. Você pode conferir a edição completa clicando aqui.

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AUTORIA FEMININA NA IPOTESI: TRAVESSIAS DE UM GRUPO DE PESQUISA

A edição deste número e a do anterior da Ipotesi (v. 23, n. 1 e 2) só foram possíveis graças ao trabalho do Grupo de Pesquisa “Travessias e Feminismo(s): estudos identitários de autoria feminina” (CNPq) do Programa de Pós-graduação em Letras: Estudos Literários (PPG Letras) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A avaliação às cegas por pares e as revisões (incluindo alguns abstracts) foram coordenadas pelo “Travessias” que assumiu esse desafio dentro de seu primeiro ano de atividade. De março a dezembro de 2019, encaramos, com determinação, esse processo ousado e enriquecedor. Outra produção do “Travessias” foi a organização do I Encontro de Literatura de Autoria Feminina da UFJF, realizado em setembro deste ano, que contou com a presença de importantes pesquisadores do tema no País, entre eles, destacamos a crítica literária Lúcia Osana Zolin (UEM). 

Para esses dois números da Ipotesi, convidamos pareceristas de diversos Programas de Pós-graduação do Brasil e fomos prontamente atendidos – não recebemos nenhuma negativa – entusiasmo que julgamos ser pela pertinência do tema: o estudo da Literatura de Autoria Feminina. Em um ano em que testemunhamos o aumento do número de feminicídios, quando a mulher ainda é vista, por muitos na nossa sociedade, como um objeto descartável, sem importância nem talento, a produção de pesquisas sobre autoras encontra na Ipotesi a acolhida merecida. É uma honra para o “Travessias” oferecer essa publicação sobre escritoras e críticas literárias e, não menor honra, propiciar visibilidade à produção intelectual de professores de Literatura em formação (bolsistas de Iniciação Científica, mestrandos e doutorandos, com ou sem seus respectivos orientadores). Aprendemos muito na edição dos dois números de 2019 da Ipotesi, experiência que vamos levar para a nossa trajetória profissional e que queremos compartilhar com alunos e colegas. Que esse know-how aqui adquirido se multiplique em diversos periódicos científicos futuros porque a Ipotesi qualificou o “Travessias” como um grupo de pesquisadores-editores.

 A seção “Artigos sobre Virginia Woolf”, que abre este número 2 do volume 23, é uma maneira da Ipotesi celebrar, em 2019, o aniversário de 90 anos da primeira publicação de Um teto todo seu e a primeira tradução do ensaio Três guinéus no Brasil, como indica Caroline Neves no seu artigo. A seção é aberta pelo estudo de Davi Pinho (UERJ) sobre o conto “Casa assombrada”. Sendo um dos maiores especialistas sobre Woolf no Brasil e no exterior, Pinho propõe o diálogo entre Filosofia e a Crítica Woolfiana, articulando a “crise dos gêneros” (gender x genre) e, ao mesmo tempo, produzindo uma contextualização históricocultural dos contos da autora. O artigo de outra expert internacional na obra de Woolf, Maria Aparecida de Oliveira (UFAC), estabelece as relações entre Um teto todo seu e a crítica feminista, observando como essa tem revisto e ressignificado o ensaio da escritora britânica. A análise da importância de Virginia Woolf como crítica e a apresentação de alguns de seus conceitos teóricos mais relevantes estão no artigo assinado por Caroline Resende Neves (Newcastle upon Tyne, UK) e por Nícea Nogueira (UFJF).  

 Na seção “Artigos sobre Escritoras”, temos o texto de Gilvan Procópio Ribeiro, Alessandra Barros Pereira Ferreira e Aline Guimarães Couto (UFJF) que aborda a poesia de autoria feminina da atualidade, com destaque para o verso de Angélica Freitas. A proposta de uma reflexão acerca das possibilidades identitárias da mulher moçambicana é o tema do artigo de Renata Flavia da Silva e Mariana Motta Campinho Cardoso (UFF), a partir da análise da obra O alegre canto da perdiz, da escritora Paulina Chiziane. O estudo de Chicas muertas, de Selva Almada, é apresentado no artigo de Regina Kohlrausch e Maria Edilene de Paula Kobolt (PUCRS), visando discutir de que maneira se cumpre a função social da arte na voz dessa escritora argentina, além de indicá-la como exemplo do processo de ocupação de espaço pela mulher na Literatura.

 Os contos de Conceição Evaristo são investigados, a partir da representação das diferenças sociais e de gênero e por meio da busca e valorização da ancestralidade africana, na pesquisa de Bárbara Inês Ribeiro Simões Daibert e Luciana de Oliveira Rodrigues (UFJF).  Como as questões históricas e sociais, além da condição da mulher negra e a violência sofrida por ela, afetam a vida das personagens do romance Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo, é o questionamento feito por Amanda Alves Nascimento Almeida, Carolina Lima Chagas e Ana Érica Reis da Silva Kühn (UNEB). A narradora de Conceição Evaristo, como uma ouvinte de histórias que buscam evidenciar as experiências de mulheres, é analisada por Juliana Cristina Costa e Marcos Vinícius Ferreira de Oliveira (UFJF) a partir dos contos presentes em Insubmissas lágrimas de mulheres.

Também no estudo de narrativas curtas, temos o artigo de Maria Aparecida de Fátima Miguel (UENP) e Carla Francine da Silva Reis (IFPR) que analisa o conto “A moça tecelã”, de Marina Colasanti, apontando os traços do Feminismo. Os conceitos de subjétil, proposto por Jacques Derrida, e de alteridade são operadores de leitura dos poemas da suíço-brasileira Prisca Agustoni, por Luana Martins de Arruda e Luiz Fernando Medeiros de Carvalho (UFJF). O impulso de uma prática erótica que se manifesta como criação literária na obra de Lygia Bojunga é o tema do artigo de Maria Aparecida Barbosa e João Marcos da Silva (UFSC), tendo como objeto o texto de Livro – um encontro. Já a escrita da chilena Isabel Allende, a partir da figura de Alba, personagem de A casa dos espíritos, é pesquisada do ponto de vista da resistência feminina diante do controle estabelecido pela ditadura no artigo de Evandro Figueiredo Candido (UFMG) e Suely da Fonseca Quintana (UFSJ). O livro Cadernos de infância, de Norah Lange, é estudado por Nathalia Maynart Cadó e Maria Eunice Moreira (PUCRS) que abordam a interface Literatura e História na Buenos Aires do século XX. A autoria feminina na Literatura Infantil é o foco de estudo de Fernanda Roberta Rodrigues Queiroz e Thales Nascimento Buzan (UFJF). Os autores discutem a trajetória histórica dessa escrita, a abertura para debates sobre o tema, a desconstrução de estereótipos, a escrita feminina de textos infantis do século XIX e a literatura infantil escrita por mulheres negras.

No fechamento da edição deste número da Ipotesi, a editora geral Profa. Dra. Carolina Magaldi propôs a submissão da tradução do texto “Les problèmes pratiques de la traduction”, de Marianne Lederer, feita por Mariana da Silva Frauches, Priscila Bastos Giesbrecht e Adauto Villela (UFJF) no âmbito do projeto de extensão ‘Traduções Acadêmicas 2018’ do Bacharelado em Tradução da FALE-UFJF. Como exemplo de problemas práticos, enfrentados pelos tradutores, Marianne Lederer analisa um pequeno texto do humorista norteamericano Art Buchwald, intitulado “The woman behind the woman” (A mulher atrás da mulher), o que nos pareceu muito pertinente para acompanhar as discussões aqui listadas.  Para concluir esta edição, inserimos a seção Outros Textos (Tema Livre) composta por dois artigos de relevância para os Estudos Literários. O primeiro, de Edmon Neto de Oliveira e Rosangela Machado Pereira Malvaccini (CES/JF), confronta o poema “É preciso aprender a ficar submerso” de Alberto Pucheu com o vídeo produzido pela artista Danielle Fonseca, explorando os principais aspectos da relação entre Literatura e Imagem. O segundo artigo, assinado por Barbara Barros Gonçalves Pereira Nolasco e Moema Rodrigues Brandão Mendes (CES/JF), resgata a atuação jornalístico-literária do escritor Mário Matos na antiga revista Alterosa, periódico de grande visibilidade no contexto de Minas Gerais.

Boas e instigantes leituras!!!

 

Publicado por

Marcela Santos Brigida
Professora na UERJ | Website

Marcela Santos Brigida é professora de literatura inglesa na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.  Doutora em Literaturas de Língua Inglesa (UERJ, 2022), defendeu tese sobre a obra da escritora irlandesa contemporânea Anna Burns. No mestrado (UERJ, 2020), pesquisou a relação entre a poesia de Emily Dickinson e a canção. É bacharel em Letras com habilitação em língua inglesa e suas literaturas (UERJ, 2018). Atuou como editora geral da Revista Palimpsesto (2020-2021). É coordenadora do projeto de extensão Literatura Inglesa Brasil (UERJ). Tem experiência nas áreas de literaturas de língua inglesa, literatura comparada e estudos interartes, com especial interesse no romance de língua inglesa do século XIX e na relação entre música e poesia.

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