Com informações do The Guardian.
Um exemplar de Lady Chatterley’s Lover usado por um juiz durante o julgamento histórico do livro em 1960, com todos os trechos “impróprios” diligentemente marcados por sua esposa, está temporariamente impedido de deixar o Reino Unido.
O ministro das artes britânico, Michael Ellis, impôs uma barreira de exportação sobre um exemplar do romance de DH Lawrence levado a julgamento por Sir Laurence Byrne. O governo espera agora que um comprador residente no Reino Unido possa igualar o valor pedido pelo livro, de £56.250.
A decisão foi tomada sob o conselho de um comitê de especialistas presidido por Sir Hayden Phillips, que disse que o exemplar era uma “testemunha” de um dos mais importantes julgamentos criminais do século XX. Phillips pediu às pessoas que imaginassem a cena: “O juiz da suprema corte presidia em suas vestes vermelhas, sua esposa ao lado dele no banco (como era permitido naquela época) enquanto uma sucessão de testemunhas singulares e distintas para a defesa foram interrogadas ao longo de alguns dias.”
“Eu tinha 17 anos na época e estudava DH Lawrence como um texto obrigatório para os meus A-levels – não era Lady Chatterley’s Lover, mas pelo menos eu podia acompanhar o percurso fascinante do julgamento nos jornais. Seria mais do que triste, seria uma desgraça, se esta última ‘testemunha’ sobrevivente deixasse a nossa terra”.
Lady Chatterley’s Lover foi o último romance que Lawrence publicou antes de sua morte em 1930 e conta a história de uma mulher aristocrata presa em um casamento sem sexo que desenvolve uma relação intensa com guarda-caça. O romance não foi publicado na íntegra no Reino Unido até 1960 por receio de a obra gerar um processo judicial, o que, de fato, ocorreu.
O julgamento no Old Bailey serviu como uma espécie de cobaia para pôr em prática o Obscene Publications Act de 1959 e foi uma sensação,, um choque entre o establishment antiquado e a sociedade progressista dos anos 60. O discurso de abertura do promotor principal, Mervyn Griffith-Jones, dizia: “Vocês aprovariam que seus filhos pequenos, filhas pequenas – porque as meninas podem ler tão bem quanto os meninos – lessem este livro? É um livro que vocês teriam em suas casas? É um livro que vocês gostariam que suas esposas ou seus empregados lessem?”
Lady Dorothy Byrne, esposa do juiz, o leu. Ela sublinhou os trechos mais “ousados” e elaborou uma lista de passagens significativas – “cenas em que fazem amor”, “linguagem grosseira”, etc. – indicando os números das páginas.
O júri levou apenas três horas para decidir que o livro não “depravava e corrompia”, ajudando a redefinir as atitudes britânicas em relação ao sexo.
O resumo de Byrne foi considerado justo, mas sua visão pessoal talvez tenha transparecido quando ele se recusou a incluir na sentença o pagamento de custas para a editora do livro, a Penguin. No entanto, a editora ainda faturou basante: a primeira edição de 200.000 exemplares da obra esgotou em um dia e no período de 2 anos, mais 2 milhões foram vendidos.
O exemplar em questão integrava a coleção do bilionário Stanley J Seeger, e de seu parceiro Christopher Cone. Desde a morte de Seeger em 2011, a Sotheby’s realizou uma série de eventos para vender os seus pertences. O livro foi vendido a um comprador residente no exterior no ano passado por £56.250 e a barreira à exportação oferece uma janela para que uma organização ou pessoa do Reino Unido cubra este valor.
Ellis disse: “O julgamento de Lady Chatterley’s Lover capturou a atenção do público em 1960. Foi um divisor de águas na história cultural, quando os ideais vitorianos foram ultrapassados por uma atitude mais moderna. Espero que um comprador possa ser encontrado para manter no Reino Unido essa parte importante da história de nossa nação.”