Após anos recusando-se a permitir que editores digitalizassem os livros do autor, o espólio de JD Salinger anunciou que a obra completa do escritor será publicada em formatos digitais pela primeira vez.
O filho de Salinger, Matt, disse que o autor sempre valorizou a acessibilidade, mas preferia a experiência de ler livros físicos. O autor de O apanhador no campo de centeio, que morreu em 2010 aos 91 anos, também odiava a internet. Matt disse ao The New York Times que uma vez falou sobre o Facebook ao pai, que ficou horrorizado com o fato de as pessoas compartilharem informações pessoais na internet.
Mas Matt, que ajuda a administrar o JD Salinger Literary Trust, disse que uma carta de uma mulher de Michigan em 2014, que tinha uma “deficiência permanente na mão direita” e dificuldades para ler livros físicos, fez com que ele reconsiderasse a melhor forma de respeitar os desejos do pai.
“Ela me desafiou a agir de uma forma muito perspicaz, mas bem-humorada, e a partir do momento em que li sua carta, me comprometi a descobrir uma maneira de permitir que ela lesse os livros do meu pai, como ela tanto queria”, disse Matt.
“Meu pai sempre fez o possível para manter seus livros acessíveis financeira e fisicamente ao maior número possível de leitores, especialmente estudantes, e ele se recusou consistentemente a abrir mão das edições de bolso mais baratas por outras mais lucrativas, mesmo quando Hemingway, Fitzgerald e Faulkner fizeram assim, e quando a Little, Brown pediu que ele fizesse o mesmo.
“Tornar seus livros acessíveis a uma nova geração, em que muitos parecem preferir ler em seus dispositivos eletrônicos, e – especificamente – pessoas com condições de saúde ou deficiências que significam que elas estão impossibilitadas de ler livros físicos, é um desenvolvimento muito empolgante, que está totalmente de acordo com seus desejos, mesmo que ele preferisse a experiência tátil completa de um livro físico. Ele preferiria e encorajaria os leitores a ficar com os livros impressos? Absolutamente. Mas não exclusivamente se isso significa que alguns não poderiam lê-los.”
Por ora, nenhum audiolivro oficial foi anunciado. Salinger detestava a ideia de seus livros serem interpretados em qualquer meio para além da página e muitas vezes rejeitava propostas de adaptações teatrais e cinematográficas de seu trabalho.
Em fevereiro, Matt revelou ao The Guardian que décadas de escritos inéditos de seu pai serão publicados nos próximos 10 anos, estimando que levará de cinco a sete anos para terminar de reunir o material.
Quatro obras de Salinger serão publicadas como e-books pela Penguin no Reino Unido e pela Little, Brown nos EUA nesta terça-feira 13 de agosto: The Catcher in the Rye, Franny and Zooey, For Esmé – With Love and Squalor and Raise High the Roof Beam, Carpenters, e Seymour – An Introduction.
Com informações do The Guardian.
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Marcela Santos Brigida é professora de literatura inglesa na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Doutora em Literaturas de Língua Inglesa (UERJ, 2022), defendeu tese sobre a obra da escritora irlandesa contemporânea Anna Burns. No mestrado (UERJ, 2020), pesquisou a relação entre a poesia de Emily Dickinson e a canção. É bacharel em Letras com habilitação em língua inglesa e suas literaturas (UERJ, 2018). Atuou como editora geral da Revista Palimpsesto (2020-2021). É coordenadora do projeto de extensão Literatura Inglesa Brasil (UERJ). Tem experiência nas áreas de literaturas de língua inglesa, literatura comparada e estudos interartes, com especial interesse no romance de língua inglesa do século XIX e na relação entre música e poesia.