David-Goff narra primeiramente as razões que levaram a ela e Lisa Coen a inaugurar o selo editorial Tramp Press, em 2014: ter acesso a um grande volume de manuscritos inéditos e a oportunidade de selecionar obras para publicação com base na qualidade dos textos em questão.
Nós tivemos um milhão de ideias e uma 10 funcionaram, mas 10 são o bastante. Desde então, publicamos obras de ficção e não-ficção que mudaram vidas, trabalhando com autores como Sara Baume, Mike McCormack e Emilie Pine. Nossos escritores venceram o International Dublin Award (o antigo IMPAC), o Goldsmiths, o Geoffrey Faber Memorial Prize. Venceram o Livro do Ano no Irish Book Awards duas vezes nos últimos três anos, batendo grandes editoras estabelecidas. Olha, vou ser sincera. Nós somos muito boas no que fazemos. E eu adoro isso.
No entanto, mesmo com a autonomia que a Tramp Press lhe trouxe, David-Goff ainda sentia que não tinha conseguido encontrar exatamente o livro que estava procurando.
A autora e editora irlandesa disse ansiar por “uma obra que falasse sobre o mundo que nos cerca, ou melhor, o livro que parece existir para metade da população e não para a outra.” Focalizando as questões locais enfrentadas por mulheres irlandesas, a autora argumentou que seu país “é melhor do que muitos lugares para as mulheres, é claro, mas – podemos admitir juntos? – não é ótimo.”
Ela prossegue listando algumas das maiores problemáticas a serem enfrentadas: “Este é o país dos Asilos de Madalena, de escândalos recorrentes em provisões para a saúde da mulher, de repetidos exemplos de erros da justiça em torno de violência sexual. Na Irlanda existem – até hoje – mulheres que viajam para o exterior para fazer abortos quando precisam, meses após uma campanha de base liderada por mulheres abordou a misoginia na nossa constituição repelindo a Oitava Emenda.1“
“Neste lugar, as estruturas que deveriam servir e proteger o povo – particularmente os sistemas judiciário e de saúde – são fundamentalmente injustos. Há casos de estupro e homicídio com tanta frequência nos noticiários, há a diferença salarial entre homens e mulheres (e argumentos tediosos quanto a haver ou não essa diferença, o que também é sexista), a misoginia banal e diária que mulheres vivenciam em casa, nas ruas, nas redes sociais e no trabalho… as mulheres são agredidas fora e dentro de casa com frequência impressionante.”
A autora conclui estar vivendo numa distopia, e é a partir desta percepção que ela formula os parâmetros do romance que gostaria de ler.
O Livro
Sarah Davis-Goff publicou no dia 7 de março seu romance de estreia. Last Ones Left Alive saiu, é claro, pela Tinder Press e já reúne avaliações positivas por parte de leitores no Amazon e no GoodReads.
“Eu quero ler obras onde o fato absolutamente enfurecedor da nossa desigualdade seja tomado como algo dado. Eu quero ler livros em que as mulheres saibam exatamente o que querem fazer em relação a isso.” – Sarah Davis-Goff
Sobre a obra, a autora acrescentou:
“Eu queria criar um mundo que não fosse diferente do nosso, com problemas que mulheres e homens enfrentam como resultado da masculinidade tóxica. No entanto, a escrever um mundo pós-apocalíptico, eu não preciso convencer ninguém que esse mundo é injusto. Nós podemos literalmente começar na mesma página. E ao criar monstros, ao menos alguns desses problemas podiam ser encarados fisicamente por personagens que queriam mudar as distopias nas quais se encontraram inseridos.”
“Além de escrever a obra que eu queria ler, eu precisava fazer algo em relação à raiva que eu sinto em relação à distopia em que vivemos. Eu preciso de um lugar para colocar tudo isso. É por meio da escrita que eu consigo falar sobre o patriarcado e questões como vício e solidão, e o custo de ser a protagonista da sua própria vida. Eu também estava muito curiosa quanto à qual seria a aparência da indústria do outro lado do espectro, da perspectiva de uma escritora, não de uma editora.”
Sinopse
Em um futuro distópico, a adolescente Orpen leva uma vida feliz com a sua mãe e uma mulher chamada Maeve numa ilha remota nos arredores da costa oeste da Irlanda. Elas são totalmente autossuficientes e isoladas do resto do mundo. No entanto, no continente, homens cometeram atrocidades terríveis e zumbis, conhecidos como skrakes, ameaçam a civilização. Numa tentativa de se salvar, Orpen viaja para a Irlanda com Maeve, que foi infectada, e um cão sem dono, sem compreender a ameaça que enfrentará. Escrito numa prosa esparsa e comovente, e reminiscente de A Estrada de Cormac McCarthy, este é um romance feminista e altamente imaginativo.2