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Dica de leitura: Small Things Like These, de Claire KeeganLeitura em 4 minutos

Indicado na Shortlist do The Booker Prize 2022 e vencedor do Orwell Prize, o romance de ficção histórica Small Things Like These foi publicado em 2021 pela contista e romancista irlandesa Claire Keegan. A história é ambientada em New Ross, Irlanda, nas proximidades do Natal de 1985, e é protagonizada por Bill Furlong, um comerciante de carvão e pai de cinco filhas. O drama se baseia nas aflições do protagonista, que se amplificam quando ele precisa enfrentar um novo dilema: ao entregar um carregamento para o convento local, Furlong descobre que os rumores sombrios sobre a instituição eram verdadeiros, e se vê dividido ao procurar o melhor para se fazer na situação, enquanto lida com a própria carga emocional de problemas passados e o cinismo — ou receio — daqueles que estão ao seu entorno, constantemente ignorando a situação.

A obra retrata o período de recessão que assolou a Irlanda durante os anos 1980 e que amplificou muitas questões sociais e financeiras da pequena região em que o livro toma forma. Além disso, ela também traz a tona diversas questões sobre a moral daquela sociedade, ao contrapor o passado de Furlong com a situação presente. A ambientação natalina estabelece um contraste com a esfera sombria do livro, dando mais dimensão a sociedade hipócrita que é escancarada conforme o livro ficcionaliza o escândalo das Magdalene Laundries, que se deu de forma muito atenuada na Irlanda, com o forte controle da igreja católica no país. 

Essas instituições, em tese, teriam servido como um lugar para “reformar” jovens mulheres que violavam códigos morais, em uma tentativa de trazê-las para a fé católica. Entretanto, essas mulheres, muitas em condições de vulnerabilidade, eram obrigadas a realizar trabalhos forçados. As Magdalene Laundries existiram em diversos lugares, mas a maioria das instituições foram fechadas até os anos 1970, com exceção da Irlanda, onde havia unidades funcionando e mantendo essas mulheres sob condições severas até os anos 1990. 

O convento que Furlong visitou também administrava o internato da região, e ele descobriu a verdadeira função da instituição ao encontrar uma garota que lhe pediu ajuda para escapar da situação degradante em que vivia. A partir disso, as suas leituras do seu entorno e do seu próprio eu se intensificam enquanto ele busca uma forma de lidar com a situação e também com o seu próprio eu

 

Em uma entrevista para o The Booker Prize, a autora afirmou que não tinha  se decidido a escrever deliberadamente sobre quaisquer temas sociais, mas procurou questionar porque tantas pessoas se mantiveram caladas e nada fizeram sobre a situação a que essas mulheres foram acometidas. Ela também comentou sobre como a história não se resume ao heroísmo de Furlong, como muitos acreditam, mas sobre a inteireza do protagonista e sua complexidade, fundamental para o desenvolver da história: 

“I know some readers see it as a story of a simply heroic character. I’m not saying that my character isn’t heroic – but I see Furlong as a self-destructive man and that this is the account of his breaking down. He’s coming into middle age, suffering an identity crisis, doesn’t know who his father is, and he’s also coming to terms with the fact that he was bullied at school. And his workaholism, which until now has kept the past at bay, is wearing thin. It’s also a portrait of how difficult it was to practise being a good Christian in Catholic Ireland. […] But I also like to think it’s a book about love. Furlong was loved as a child, was wanted at a time when so many children born within and outside of wedlock were unwanted. It was the English poet, Philip Larkin, who wrote that beautiful line ‘what will survive of us is love’ – and I like to think that this book has something to answer back about this, and for better or worse perhaps prove it true. Without being loved as a child, Furlong might have been brutalized, grown hard as others did and self-centered – and might also have done nothing.”

 

No Brasil, o livro foi publicado pela editora Relicário ainda esse ano, sob o título “Pequenas Coisas Como Estas” e com uma bela tradução de Adriana Lisboa. Apesar de ainda não ter data de distribuição ou estréia no nosso país, a obra também ganhou uma adaptação para o cinema, estrelado por Cillian Murphy em uma tocante interpretação do drama de Furlong. O filme homônimo foi dirigido por Tim Mielants com uma adaptação do roteiro feita por Enda Walsh, e sua estreia no Festival de Berlim deste ano rendeu diversos elogios da crítica especializada. 

Publicado por

É graduanda em Letras - Inglês e literaturas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e bolsista do projeto de extensão Literatura Inglesa Brasil, sob orientação da Profa. Dra. Marcela Santos Brigida.

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