The Professor foi o primeiro dos quatro romances escritos por Charlotte Brontë, a mais velha das três irmãs responsáveis por algumas das obras mais conhecidas da literatura inglesa. Sob o pseudônimo Currer Bell, a autora enviou o manuscrito para publicação na mesma época em que suas irmãs enviaram O morro dos Ventos Uivantes e Agnes Grey, mas ele foi rejeitado nove vezes por editores e, após tanta insistência, também pela própria Brontë. Apesar do infortúnio, muitos atribuem a rejeição da publicação como um incentivo para ela ter escrito Jane Eyre (1847), sua obra de maior sucesso, e também Shirley (1849) e Villette (1853), em que reaproveitou grande parte do material temático da obra rejeitada, transformando e expandindo o protagonista inicial no que se tornou o personagem Paul Emanuel.
Entre as muitas submissões, o editor George Smith disse que consideraria um trabalho de três volumes do autor, cuja verdadeira identidade ele ainda não conhecia, e após o sucesso da subsequente publicação de Jane Eyre, The Professor acabou ficando de lado. Após a publicação de Shirley, Charlotte Brontë não conseguiu escrever nenhum romance novo devido ao profundo luto após a morte dos seus irmãos, mas voltou a revisar a obra: além de trazer revisões ao texto original, a autora adicionou um prefácio em que reflete sobre as dificuldades e lutas que a chegada desse texto ao público implicava, além de comentar também sobre as suas escolhas estilísticas e temáticas e as pressões e demandas do mercado editorial.
O romance foi publicado apenas postumamente, em 1857, sendo a última de suas obras completas a vir a público. A história se baseava nas experiencias de Brontë como pupila e professora em uma escola para garotas em Bruxelas, onde ela conheceu o professor Constantin Héger, com quem trabalhou por dois anos antes de escrever a história. Ao não poder demostrar seus sentimentos ou ser correspondida por Héger, que já era comprometido, ela os articulou na escrita da obra de ficção. A obra apresenta a relação professor-pupila sustentada pela narração em primeira pessoa do personagem William Crimsworth, com um ponto de vista masculino atipico entre as obras escritas por mulheres do período vitoriano. O protagonista é um órfão criado por uma família pouco afetuosa, dos quais foge e, após passar um tempo trabalhando na area industrial para o seu irmão Edward, decide tentar a sorte no continente. A história acompanha, então, como ele encontra trabalho como professor em uma escola para garotos com um expediente adicional em uma para garotas, onde ele conhece Frances Henri e, aos poucos, os dois desenvolvem uma relação amorosa.
Ao escreverem sob o pseudônimo masculino para evitar as críticas enviesadas que viriam com o exercício da sua capacidade intelectual enquanto mulheres, Charlotte Brontë e as demais autoras do período eram muito afetadas pelas questões de gênero que permeavam a era vitoriana. Pode-se dizer que essa esfera restritiva foi também ecoada na criação do personagem de Crimsworth, já que o romance aborda diversas questões relativas à classe social e dinâmicas de gênero. Brontë fez um uso interessante da perspectiva masculina no romance e, por meio das vivências e relações do professor no país, explorou e confrontou na obra as dinâmicas de poder vigentes e as suas implicações.
Publicado por
É graduanda em Letras - Inglês e literaturas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e bolsista do projeto de extensão Literatura Inglesa Brasil, sob orientação da Profa. Dra. Marcela Santos Brigida.