Literatura Inglesa Brasil

Clube do Livro: Lá Não Existe Lá de Tommy Orange é a leitura de abril

A imagem apresenta uma foto do autor Tommy Orange ao lado de seu livro.

Lá Não Existe Lá será a leitura de abril do Clube do Livro Fernanda Carvalho. A reunião acontecerá no dia 29/04, às 18h, via Google Meet. 

 

“We did not move to cities to die. The sidewalks and streets, the concrete absorbed our heaviness. The glass, metal, rubber, and wires, the speed, the hurtling masses — the city took us in.”

 

Tendo Lá Não Existe Lá (2018) como romance de estreia, o californiano Tommy Orange nasceu na cidade de Oakland em 1982. Ele tem cidadania nas tribos Cheyenne e Arapaho de Oklahoma, sendo Cheyenne por parte do pai, que, além de ter esta como primeira língua, seguia a carreira de líder de cerimônia na Igreja Nativo Americana. Na maneira em que o autor diz a respeito dos Índios Americanos (termo o qual ele e seu pai mais eram familiares), a vida moderna urbana e os efeitos da globalização são evidenciados a ponto de retomar a narrativa indígena que foi segregada na colonização e reconectar ela ao espaço e tempo reais, e à sua verdade diversa, humana, viva e profunda. A aparente contradição na vida americana e moderna de um índio é inevitável na vida de Tommy Orange, com sua identidade Cheyenne sendo mais distintamente revisitada por ele na memória por via de aspectos casualmente fragmentados como a as apresentações em sala de aula que seu pai fazia da cultura Nativa Americana (um nome, para ele, mais performático) na frente de outras pessoas e as viagens avulsas que ele levava o autor e suas irmãs às tribos em Oklahoma. De maneira parecida, seu primeiro romance vai desdobrar as experiências plurais e únicas dos chamados índios urbanos.

Em uma nota similar, deve ser apontada a relação particular do autor com a escrita. Passando a sua adolescência jogando Hockey em patins em escala nacional, e encontrando-se com a música a ponto de graduar-se com um bacharelado de ciências nas artes sonoras, Tommy Orange só começou a escrever na vida adulta ao trabalhar em uma livraria. O autor reconta não ter sido um grande leitor durante a infância e muito menos alguém chamado de inteligente de maneira que convencionalmente “justificasse” seu presente como renomado romancista. Segundo esta entrevista para o Literary Arts, Orange revelou que a sua publicação foi motivada por outra questão em sua vida:

 

“Eu sabia que eu queria escrever um romance mas eu não sabia necessariamente o que. E eu não me propus a sequer começar até eu descobrir que ia ser pai. Eu estava escrevendo um monte de coisa experimental, e era bem ilegível, mas algo sobre a experiência de se tornar pai – e o papel de ensinar outro humano como ser um humano – ligou algo em mim e me fez querer levar a escrita mais a sério e começar um projeto real.”

 

Lá Não Existe Lá foi publicado no Brasil pela Rocco ainda no mesmo ano de seu lançamento original, o que reflete a importância de pensar-se no que significa ser indígena em países que já foram colônia, ainda que essa colonização tenha ocorrido de maneiras distintas. Na época, foi eleito um dos melhores livros do ano pelo New York Times e Hypeness. O que torna a história tão interessante é a capacidade de Orange de reunir e inserir diversas vozes narrativas, enchendo o livro de histórias tão densas em suas diferenças e tão entrelaçadas. Os vários personagens principais da obra compartilham os impactos e reverberações de suas vivências enquanto povo originário no meio urbano, mais especificamente nas delimitações de Oakland, compartilhando a confusão advinda da ambiguidade étnica e demais desafios, como a depressão e o sentimento de não pertencimento. A obra também aborda as complexidades das relações familiares, explorando o papel do luto e da falta de um conhecimento pleno das próprias raízes. Em meio à essas histórias, que se entrelaçam à medida que os personagens vão sendo graciosamente conectados uns aos outros, em função de um Powwow a ser realizado no local. Aliado a essas pequenas narrativas intercaladas, Orange também intercala curtos ensaios sobre a condição do Índio Americano, analisada por diversas óticas, desde a colonização até os seus impactos na percepção e tratamento dos povos indígenas na contemporaneidade. O livro também tem uma prequela e sequência, intitulada Wandering Stars: indicada ao The Booker Prize 2024, o segundo romance do autor é certamente uma ótima próxima leitura para aqueles que participarem do clube do livro! 

Para participar da reunião de abril do clube do livro, basta se inscrever clicando aqui. Será maravilhoso receber vocês para discutir a obra de Tommy Orange

 

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