Nascida em 1968, Claire Keegan é uma romancista e contista irlandesa contemporânea que ganhou diversos prêmios e teve seu trabalho traduzido para mais de 30 línguas. A autora foi criada em uma fazenda na Irlanda e, aos 17 anos, iniciou sua graduação em Inglês e Ciência Política na Loyola University, em Nova Orleans. A autora voltou para a Irlanda em 1992 e, sete anos depois, publicou seu impactante primeiro volume de contos, intitulado Antarctica, que ganhou o Rooney Prize for Irish Literature.
O trabalho de Keegan tem ganhado atenção internacional após o sucesso de Small Things Like These. O conto, já indicado aqui, fez com que a autora fosse indicada ao The Booker Prize e ao Rathbones Folio Prize em 2022. O conto foi vencedor do Kerry Group Award na categoria de melhor romance irlandês do ano e também recebeu o prêmio Orwell por Ficção Política. A história também ganhou uma adaptação para as telonas, protagonizada por Cillian Murphy e com estreia no cinema brasileiro prevista para o dia 13 deste mês.
A autora também foi aclamada pelo conto Foster, ganhador do Davy Bymes Award, sendo escolhido pela Times no ano passado como uma das melhores obras de ficção a serem publicadas no século XXI. O texto também foi adaptado para o cinema, sendo o primeiro filme de língua irlandesa a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, The Quiet Girl (2022). Seu segundo livro, Walk the Blue Fields (2007) venceu o Edge Hill of Prize e foi considerado a melhor coleção de histórias publicada nas Ilhas Britânicas.
No mesmo passo em que Keegan é consagrada enquanto um nome fortemente reconhecido dentro da literatura contemporânea, a sua escrita não se rompe com o passado; ela o observa de maneira a identificar as constâncias entre ele e os tempos de hoje. Esta representação da ambiguidade inclui também as próprias introspecções que seus personagens tiveram ao perceber a violência naquilo que eles sempre viveram e aceitaram como dado. Lidas ao redor do mundo e ainda traduzidas para a linguagem do cinema, essas difíceis reconceitualizações podem ser alcançadas para além das dinâmicas de poder específicas ao passado rural da Irlanda do qual partem os contos de Keegan.
Em obras como Small Things Like These, a sociedade irlandesa tem a sua relação com trabalho rural, com a Igreja Católica e com a estrutura familiar detalhadamente articuladas. Sua ficção descobre aquilo que o jornalista irlandês Fintan O’Toole chama de “o conhecido desconhecido”: era conhecida a existência do abuso institucional das Magdalene Laundries, porém ninguém sabia fazer algo para o impedir.
Semelhantemente, o ódio e a violência às mulheres (e, por consequência, às crianças) também são descobertos e aprofundados, apesar da aparente distância dessa situação específica em outras de suas obras. Parting Gift, primeiro conto de Walk The Blue Fields, descreve, em segunda pessoa, a partida da filha caçula de uma família liderada por um pai abusador para estudar nos Estados Unidos. Em Foster, a filha criança de uma mulher sobrecarregada que teve outra gravidez acidental fica sob a responsabilidade de um outro casal, podendo pela primeira vez sentir-se cuidada e amada, ao mesmo tempo em que percebe a indiferença e a solidão negligente de sua família original. Inversamente, o conto So Late in the Day (2023) segue os passos de um homem adulto heterossexual, descrevendo o dia seguinte à noite em que a sua mulher quebra o noivado, retratando a rotina, as relações sociais e o cotidiano modernos concomitantemente ao ódio masculino tradicional que reverbera no protagonista ao pensar na relação perdida.
Tendo em vista a multiplicidade de temas na obra de Keegan, o que você acha de adotar uma de suas obras como leitura do mês?