Antes utilizado de modo pejorativo para se referir a mexicanos pobres, o termo “Chicano” passou a ser reivindicado pelos descendentes de mexicanos nascidos nos Estados Unidos como símbolo de orgulho e resistência à discriminação por eles sofrida. A literatura chicana é um reflexo dessa luta, iniciada nos anos 1960 com El Movimiento, e se fundamenta na expressão cultural de pessoas que não se encaixam plenamente nos moldes culturais americanos e que necessitam de espaço para as suas próprias origens, modos de expressão e questões. Nos anos 1980, houve uma explosão da literatura chicana feminina e a exploração de suas vivências enquanto mulheres dentro desse contexto.
Dentre tantas escritoras importantíssimas, trouxemos cinco nomes da literatura chicana para você conhecer melhor:
- Glória E. Anzaldúa
Nascida no Texas em 1942, Glória E. Anzaldúa é uma das principais autoras chicanas e foi uma figura essencial na criação dos estudos de fronteira e para a teoria queer. Seu trabalho, muito prolífico e criativo, abrange diferentes gêneros, desde estudos teóricos a poesias e contos, e essa versatilidade a torna importantíssima tanto para a academia quanto para o público e movimentos sociais. Seu livro Borderlands/La frontera: The New Mestiza, por exemplo, teve um papel fundamental para um maior entendimento das identidades femininas chicana e queer/lésbica na contemporaneidade. A obra da autora também apresenta a importância da autoidentificação (ou self-naming, em suas próprias palavras), como uma tática de sobrevivência, que não a confina ou contém, mas evita o apagamento das diferentes pessoas que tem em si.
2. Lorna Dee Cervantes
Uma das maiores vozes da literatura chicana, a poeta Lorna Dee Cervantes nasceu em São Francisco, em 1954. De ascendência mexicana e nativo americana, a autora evoca e explora as diferenças culturais existentes entre mexicanos, americanos, nativo americanos e afro-americanos, além das divisões de gênero e classe, com ênfase no impacto da cultura dominante nas vidas das mulheres latinas e nas formas de resistência que elas criaram. Ela foi desencorajada a falar em espanhol quando pequena, em uma tentativa de protegê-la contra atitudes racistas, e a perda dessa linguagem e a consequente dificuldade em se identificar com sua herança cultural teve grande influência na sua poesia. Ganhou o primeiro de seus muitos prêmios com o poema “Emplumada” e atualmente é diretora do departamento de escrita criativa na University of Colorado-Boulder.
3. Sandra Cisneros
Nascida em Chicago em 1954, Sandra Cisneros é uma poeta e contista muito conhecida na literatura chicana. Sua temática principal são as suas experiências únicas enquanto uma mulher hispânica de classe trabalhadora em uma cultura totalmente estranha, além da necessidade que sentia de quebrar estereótipos e expectativas para se estabelecer enquanto indivíduo e autora. Ela iniciou sua carreira com poesias e, fascinada pela escrita e seus ritmos, a sua certeza era de que queria escrever. Cisneros ganhou atenção internacional com o seu primeiro livro de ficção, A casa na Rua Mango, uma série de vinhetas narradas por uma perspectiva marginalizada, escrita com uma prosa simples e de forma experimental.
4. Cherríe Moraga
Cherríe Moraga é uma escritora, dramaturga e ensaísta muito ativa nas comunidades chicana, indígena, queer e feminista, com muitos feitos artísticos e acadêmicos. Ela coeditou com Gloria E. Anzaldúa uma antologia de textos feministas fundamentais, e entre os seus livros está incluso o título Xicana Codex of Changing Consciousness: Writings 2000–2010, obra com ensaios e poemas que combinam experiências pessoais tocantes com críticas culturais e políticas. Ela atua como professora na University of California, onde instituiu, junto a Celia Herrera Rodriguez, o centro Las Maestras, que visa criar um maior entendimento das culturas chicana e indígena e suas produções artísticas.
5. Ana Castillo
Nascida e criada em Chicago, Ana Castillo é uma autora e tradutora muito prestigiada, além de ser editora da revista La Tolteca, dedicada a promover um mundo sem fronteiras ou censura. Seu trabalho na poesia e na prosa é altamente inovador e se baseia nas tradições orais e literárias mexicanas, além de estarem relacionadas à questões de identidade, nação, religião e política. Seu primeiro romance é intitulado The Mixquiahuala Letters, e apresenta 10 anos de troca de cartas entre duas amigas, explorando a mudança dos papéis femininos nos Estados Unidos ao longo dos anos 70 e 80, com três possíveis versões para a história a depender da ordem de leitura. Escreveu também outros romances, diversas coleções de poesia e contos.