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Carol Ann Duffy alerta para a importância dos insetos em último ato como poeta laureada3 min read

Quando foi designada como Poeta Laureada do Reino Unido pela Rainha Elizabeth em maio de 2009, Carol Ann Duffy se tornou a primeira poeta da Escócia e a primeira mulher a desempenhar este papel.

As origens do posto de poeta laureado remontam a 1616, quando James I concedeu uma pensão a Ben Jonson. Embora tenha havido outros poetas da corte tenham se seguido a ele, não foi até 1668, com a nomeação de John Dryden por Charles II, que o cargo foi elevado a ponto de receber um escritório dentro da casa real.

Dryden, que é considerado o primeiro Poeta Laureado per se, foi nomeado após o sucesso de seu poema de 1667, Annus Mirabilis (elogioso ao rei). O poeta, que havia se convertido ao catolicismo, foi demitido do cargo em 1689, após a ascensão dos protestantes William III e Mary II ao trono. Dryden, que já havia alternado suas lealdades anteriormente (apoiando o Protetorado de Cromwell e, mais tarde, a Restauração da Monarquia), se recusou a jurar lealdade aos novos monarcas e se tornou o único laureado a ser destituído do cargo.

Após a demissão de Dryden, o posto de poeta laureado foi concedido em caráter vitalício a todos os seus sucessores até que Andrew Motion foi nomeado em 1999 por um período fixo de dez anos. Sua sucessora e atual laureada, Carol Ann Duffy, também foi nomeada pelo período fixo de uma década. Ainda não se sabe quem a sucederá: o nome do novo poeta laureado será anunciado somente em maio.

Para se despedir do posto, Duffy publicou uma série de poemas na revista Review do jornal The Guardian e convidou os leitores para um evento que ela oferece nesta segunda-feira, dia 29 de abril, em Londres. A série de poemas inéditos “celebra a beleza e a variedade de um mundo de insetos em extinção”. As obras são assinadas pela própria Duffy, por Alice Oswald, Daljit Nagra, Paul Muldoon e outros poetas contemporâneos.

Ela introduziu os poemas em um artigo no The Guardian com este breve texto:

O que é mais bonito e mais verdadeiro: “Brexit significa Brexit” ou “Onde a abelha se alimenta, também lá me alimento eu”1? A falta de sentido do terrível mantra de Theresa May, gritado em  tom de lamento quando David Cameron fugiu para as colinas, é a principal causa de nosso caos político atual, assim como a doce canção de Ariel continua a nos lembrar de nossa conexão vital com o mundo natural. Quando degradamos a linguagem, degradamos nossas vidas, nossa sociedade e, por fim, nosso planeta. A poesia se põe contra isso, atemporalmente, em Safo, Shakespeare, John Donne, Emily Dickinson…

Eu poderia ter convidado os poetas reunidos aqui para escrever sobre o Brexit, mas há algo mais importante. No início deste ano, a revista Biological Conservation publicou a primeira avaliação científica global da população de insetos, registrando que mais de 40% das espécies estão em declínio e um terço está ameaçado de extinção. A revista conclui: “a menos que mudemos nossas formas de produzir alimentos, os insetos como um todo irão seguir o caminho da extinção em poucas décadas. As repercussões que isso terá para os ecossistemas do planeta serão catastróficas.” Enquanto as crianças de todo o mundo se manifestam contra as mudanças climáticas e os ativistas do Extinction Rebellion carregam suas árvores para a Waterloo Bridge, aqui temos vários poemas comissionados recentemente (e um dos meus) celebrando e observando os insetos como deveríamos fazer, como fizeram os poetas desde Virgílio. Tudo o que vive está conectado e o dever e a alegria da poesia é tornar essas conexões visíveis na linguagem.

Carol Ann Duffy

Os poemas estão disponíveis no site do The Guardian.

Publicado por

Marcela Santos Brigida
Professora na UERJ | Website

Marcela Santos Brigida é professora de literatura inglesa na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.  Doutora em Literaturas de Língua Inglesa (UERJ, 2022), defendeu tese sobre a obra da escritora irlandesa contemporânea Anna Burns. No mestrado (UERJ, 2020), pesquisou a relação entre a poesia de Emily Dickinson e a canção. É bacharel em Letras com habilitação em língua inglesa e suas literaturas (UERJ, 2018). Atuou como editora geral da Revista Palimpsesto (2020-2021). É coordenadora do projeto de extensão Literatura Inglesa Brasil (UERJ). Tem experiência nas áreas de literaturas de língua inglesa, literatura comparada e estudos interartes, com especial interesse no romance de língua inglesa do século XIX e na relação entre música e poesia.

1 comentário em “Carol Ann Duffy alerta para a importância dos insetos em último ato como poeta laureada3 min read

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