Literatura Inglesa Brasil

5 razões para ler Geoffrey Chaucer

Geoffrey Chaucer, poeta inglês de 1343, é considerado o pai da literatura inglesa – ou, similarmente, “aquele que encontrou a língua inglesa”. As razões por trás do título não se resumem a seu lugar enquanto autor inglês mais influente antes de William Shakespeare, tendo também em vista que foi Chaucer o primeiro a escrever usando a língua falada na Inglaterra Medieval. Além de isso marcar a língua inglesa moderna, também constituiu uma grande mudança na idade média, visto que a língua falada (Inglês Medieval) estava mudando juntamente ao povo, ao passo em que a escrita seguia leal aos ideais soberanos (do latim e ao francês, respectivamente pela superioridade da Igreja Católica Romana e dos novos lordes Normandos no poder). Por conta disso, é relevante também destacar o trabalho diplomata de Chaucer assim como seus serviços à corte real, constando tanto uma mudança ativa dentro de seu tempo quanto uma influência velada dentro do nosso.

Entre variados textos, sua maior obra é o poema narrativo Os Contos de Canterbury (1400), que, composto no final da vida de seu autor e por isso inacabado, retrata um jogo de contação de histórias entre 30 peregrinos em viagem de Londres a Canterbury para visitar o túmulo de St. Thomas Beckett. Reunindo personagens-narradores de origens, filosofias de vida e motivações diversas (que são refletidas tanto em suas próprias histórias autobiográficas quanto nas tales), a narrativa de Canterbury carrega diferentes tradições literárias e cotidianos medievais em si própria. De modo que vale igualmente para este e para os outros poemas de Chaucer (tais como Troilus e Criseyde, Fortune, e The Legend of Good Women), na sobrevivência e continuação do seu corpo literário podem ser recolhidos pequenos universos alheios a vida moderna do leitor. Sendo tanto a arte, a literatura e a língua quanto a vida, as classes e a cultura diferentes daquelas dos tempos de hoje, a leitura do texto Chauceriano pode realçar verdades de maneiras únicas. 

Por que ler Geoffrey Chaucer?

01. Legado histórico

A verdade posta por Italo Calvino de que “ler uma obra clássica é reler todas as outras” serve, no caso de Chaucer, como uma rua de mão-dupla. Ao mesmo tempo em que, lendo Chaucer, relê-se Shakespeare e adiante (incluindo obras extra-literárias como o longa-metragem de 2024, Rivais), é também verdade que, lendo Chaucer, lê-se os italianos Boccaccio, Boécio e Petrarca. Além disso, tanto por via da re-escrita que Chaucer fez desses autores quanto de sua própria escrita (se é possível traçar tal divisão), ler Chaucer é também rever a Matéria da Bretanha, a Bíblia, e Guerra de Tróia. 

02. Poeta da língua inglesa

Nota-se que a tradução do italiano e do francês para o inglês medieval naturalmente inclui mais do que a mudança de idioma. Mais do que fazer poesia da língua falada, Chaucer também foi o primeiro a introduzir a rima real e o pentâmetro iâmbico à literatura inglesa e foi a partir da reutilização da poesia francesa e italiana (das baladas, das “canções”) que isso se deu. 

Em outros termos, a escrita de Chaucer segue uma tradição literária que foca a poesia e o seu ritmo enquanto uma experiência vocal, que se recita e se ouve, diferentemente da relação moderna da literatura enquanto leitura. Dessa maneira, a leitura (em voz alta) de Chaucer é triplamente especial: por migrar de um engendrado de outras escritas e referências, por traduzi-las de maneira tão marcante na literatura inglesa e por ser a estreia literária de muito do inglês falado hoje. Por conta de tal diversidade poética, que envolve conselhos, canções, e narrativas extensas, Chaucer pode ser um caminho interessante para conhecer novamente a poesia.

03. Senso de humor

Apesar de não ser contemporaneamente associado à poesia, ou mesmo popularmente à Idade Média, o tom cômico aparece frequentemente no corpo literário de Chaucer. O poema curto chamado To His Scribe Adam serve de exemplo enquanto um poema feito com o intuito de reclamar sobre o seu próprio escrivão. Os contos de Canterbury incluem ainda mais o senso de humor de Chaucer e de sua época, como na mulher de Bath que, casada cinco vezes, argumenta contra a castidade,

“Why else is it set down in books, that men / Are bound to pay their wives what’s due to them? / And with whatever else would he make payment / If he didn’t use his little instrument?

Porque o tom cômico apoia-se tanto no uso das palavras quanto nas situações imaginadas, em situações reais e fictícias, ler Chaucer pode, de novo, ser uma reintrodução à poesia.

04. História

Como visto nas outras razões para ler Chaucer, é possível examinar-se a humanidade nesse específico trecho de tempo e espaço através de seus trabalhos. Não só aquelas histórias reutilizadas e referenciadas por Chaucer já descarregavam ideias e valores populares socialmente, tais como os romances de cavalaria, de amor cortês e mesmo aquilo emprestado da mitologia e de textos religiosos, como sua literatura por si só. Tanto os contos de Canterbury quanto os prólogos e epílogos de quem os conta dizem das relações sociais e culturais da época; eles sendo separados e nomeados pelos cargos de seus narradores, e seus comportamentos sendo reflexivos de suas vidas e grupos sociais. Além disso, como já foi mencionado, a estreia literária do inglês medieval nos manuscritos de Chaucer nos possibilita traçar uma análise diacrônica da língua e rever conceitos que ainda existem hoje em signos diferentes dos que estão em uso. Como exemplo, a palavra wyf do inglês medieval entrega o duplo sentido de “mulher” e de “esposa” ao mesmo passo que pode ser preciso sobre a vida das mulheres medievais, e ainda mais a da personagem Alison, referida por seu cargo de mulher (esposa).

05. Poeta do amor (e gênero)

Chaucer é também muito conhecido como o poeta do amor, seja este o amor cortês, pecaminoso ou divino. Consequentemente, isso pode apresentar material para o estudo das relações de gênero. O triângulo amoroso do primeiro dos contos de Canterbury (o Conto do Cavaleiro) já sugere os lugares respectivos do desejo masculino e do objeto feminino de desejo: dos prisioneiros e da menina livre que passa por eles sem os notar. De maneira parecida, o poderoso guerreiro Troilus não é tão derrotado na Guerra de Tróia quanto é estando apaixonado pela jovem Criseyde, herdando para si sua Canção,

“If love be good, from whence comes my woe? / If it be evil, a wonder, thinketh me, / when every torment and adversity / that comes of it seems savoury I think, / for I ever thirst the more the more I drink.”

Ao mesmo tempo, Chaucer ainda é apologético por sua representação do feminino nessas histórias de amor. Enquanto a própria obra Troilus and Criseyde é terminada com o pedido de Chaucer para que suas leitoras não se chateiem, prometendo escrever sobre mulheres menos culpadas, o prólogo da mulher de Bath culpa a misoginia do seu quinto marido, que a contava histórias de esposas/mulheres cruéis como razão para a violentar. De maneira a marcar a literatura através do tempo e espaço, a mulher de Bath argumenta,

“By God, if women had but written stories, / As have these clerks within their oratories, / They would have written of men more wickedness / Than all the race of Adam could redress.”

Sair da versão mobile